Ouro olímpico em matemática

Nunca se tinha visto antes nada assim: desde 1989 que equipas portuguesas participam nas Olimpíadas Internacionais de Matemática e só agora é que um português conseguiu alcançar uma medalha de ouro.

o autor da proeza, miguel santos, tem 16 anos, frequenta o 10.º ano da escola secundária de alcanena e revela uma verdadeira queda para a matemática. apesar da sua relativa juventude, conseguiu resolver na perfeição quatro dos seis problemas que foram colocados a jovens de todo o mundo, problemas esses cujo grau de exigência ultrapassa de longe o que é pedido no nosso ensino secundário.

o resultado – que deu direito à presença de nuno crato, o ministro da educação e da ciência e ex-presidente da sociedade portuguesa de matemática (spm), no aeroporto da portela para receber os medalhados (houve, além da medalha de ouro, duas de bronze e duas menções honrosas) e até a um comunicado do presidente da república – evidenciou o erro da ideia feita de que há uma qualquer inabilidade nacional para a matemática. somos, nessa disciplina, como aliás noutras, tão bons como os melhores, se nos dermos ao trabalho de nos prepararmos convenientemente.

 e, claro, se tivermos ambição. com efeito, o ouro agora obtido não teria sido possível sem um intenso treino proporcionado ao longo de muitas semanas pela escola delfos aos jovens que venceram as olimpíadas matemáticas nacionais, uma iniciativa da universidade de coimbra que conta com a colaboração da spm. e não teria sido possível sem a vontade do rapaz…

num país abalado pelo epíteto de pigs e pelo ‘rating’ de lixo, o sucesso nas olimpíadas internacionais de matemática, realizadas em amesterdão, na holanda, foi decerto benfazejo para levantar o moral nacional. mas mal seria se embandeirássemos excessivamente em arco. numa análise fina dos resultados olímpicos, o jovem luso ficou em 39.º lugar, o que é muito bom numa competição com mais de cinco centenas de participantes, mas dá uma certa margem para melhoria.

ao contrário das olimpíadas desportivas, nestas competições de matemática não há uma medalha de ouro, dada a um vencedor absoluto, mas sim uma mão cheia de medalhas de ouro, dadas a quem obtém pontuações mais altas. além disso, do ponto de vista colectivo, e integrando todos os anos em que participou, portugal continua no fundo do ranking mundial da matemática juvenil ou quase. ainda estamos bem atrás de países do leste da europa como a hungria, a polónia ou a bulgária, para não falar já dos países do extremo oriente como a china, a coreia do sul e singapura, que estão desde há muito habituados a ocupar aos lugares de topo.

temos uma andorinha e queremos a primavera? depende sobretudo de nós. é preciso agora mostrar que uma andorinha faz a primavera!

tcarlos@uc.pt