Mubarak ‘humilhado como humilhou o Egipto’

Foi um homem cabisbaixo e doente aquele que se apresentou no tribunal do Cairo esta quarta-feira. Começou o julgamento de Hosni Mubarak, o homem que é hoje apenas uma sombra do que já foi.

os egípcios que foram presos, aqueles que viveram na pobreza e sofreram na pele a corrupção do regime rejubilaram com a humilhação do ex-ditador. com direito tempo de antena na televisão nacional, mubarak apareceu acamado e encarcerado numa jaula, com os filhos e os cúmplices por companhia.

ghada ali é uma das pessoas para quem este dia marca o início da vingança. mãe de uma rapariga de 17 anos morta em alexandria durante os dias de protesto da primavera árabe dá voz ao sentimento dos egípcios: «este é o nosso sonho, vê-lo assim, humilhado como nos humilhou durante os últimos 30 anos».

perante todo o egipto, hosni mubarak e o seu ministro do interior foram acusados «de homicídio intencional e premeditado de protestantes pacíficos». filhos e pai estão ainda acusados de corrupção.

quando lhe foi pedido que se identificasse, levantou a mão por entre os lençóis da cama e disse: «sim, estou aqui. nego completamente todas essas acusações».

no exterior do tribunal, onde foi colocado um ecrã gigante, é como se a luta entre protestantes e opositores ao regime continuasse. quem se mantém ao lado do ex-ditador fez questão de estar presente e dar trabalho à polícia de intervenção que procura serenar os ânimos.

os cerca de 50 apoiantes de hosni mubarak tentaram à força entrar no edifício do tribunal enquanto cantavam: «amamos-te mubarak. vamos demolir e queimar a prisão se eles te condenarem».

depois dos relatos de que estaria muito doente o homem que se apresentou em tribunal, que foi empurrado numa cadeira de rodas até à jaula e que ouviu as acusaçãoes que sobre ele impendem tapado até ao pescoço por um lençol branco, era uma sombra do que já foi, mas estava menos frágil do que se poderia pensar.

mubarak e os seus dois filhos voltam a tribunal a 15 de agosto, até lá o ex-ditador fica ‘hospedado’ no hospital do cairo.

já os restantes acusados no processo, o ex-ministro do interior, habib el-adli, e mais seis comandantes de polícia voltam a tribunal já amanhã.

catarina.palma@sol.pt