Infidelidade está em alta

O site de relacionamentos Secondlove já conta com 35.500 utilizadores. Na maioria são casados à procura de sexo ocasional

e se, de repente, começasse a receber mensagens de pessoas comprometidas com ânsias de adultério? isso poderia significar que está inscrito no site secondlove. foi o que aconteceu à jornalista do sol, que se inscreveu nessa comunidade virtual de flirts e ‘facadinhas’ no casamento e deixou-se estar quietinha no canto do seu perfil, sem foto.

aqui não são precisos acenos de sedução. basta estar inscrita para que as mensagens não se façam esperar. o pedrus123 mete conversa: «olá, vejo que gostas de muitas coisas, eu também tenho um grande gosto pela vida. adiciona-me ao teu msn; talvez possamos descobrir mais coisas para gostar nesta vida». o filipe81 também lança o isco: «olá, perfil misterioso… por onde começar?»

o franxisco vai mais longe e faz um convite com seis opções de escolha. uma das propostas passa apenas por uma ida ao cinema e «logo se vê», uma outra passa por uma ida ao cinema, um jantar e «logo se vê». mas há uma sugestão que se destaca por ir direitinha ao assunto que interessa ao franxisco: «eu e tu combinamos um local e vamos logo ‘pinar’ e talvez depois outras actividades».

fugir à monotonia

um dos que abordam a jornalista diz ter 40 anos, ser «casado e feliz». e procura encontrar alguém que, como ele, «apenas queira fugir à monotonia que a vida nos impõe». sublinha ainda que «o sigilo será, claro está, importantíssimo». e reforça: «que fique claro que gosto da minha vida conjugal e procuro alguém que queira preservar a sua».

um outro diz ter 43 anos, curso superior e um divórcio no currículo amoroso. é extrovertido. nas opções de preferências, manifesta-se aberto a sexo, ménage à trois, fantasias sexuais e sexo oral.

mas esta é apenas a visão espectadora da jornalista. como age quem, de facto, tem vontade de se aventurar em flirts com os outros utilizadores? o sol falou com quatro utilizadores (que querem manter o anonimato), para perceber as motivações de quem navega por aquelas águas. uma coisa é evidente: não é de amor que andam à procura.

‘a última coisa que quero é apaixonar-me!’

antónia, 45 anos, vive com o marido há 20 anos e tem três filhos. na vida pública, é empresária, licenciada em psicologia e gestão de empresas. no secondlove transforma-se numa personagem que procura «o jogo».

ao sol_explicita querer manter apenas um contacto virtual com homens: «sinceramente, prefiro que se mantenha pelo virtual. é muito mais fácil de gerir! já tive, uma altura, um envolvimento físico com outro homem, que não o meu marido, e isso torna tudo mais complexo».

antónia está longe de querer envolvimentos profundos: «a última coisa que quero é apaixonar-me! nesta fase da vida é muito difícil deixarmos tudo por uma grande paixão, até porque sabemos que ela acaba!»

até há seis anos, esta empresária não tinha dúvidas de que o marido lhe seria fiel, tal como ela era. agora não sabe. «ambos estamos a viver, intensamente, para as nossas carreiras e para a nossa família. e deixámos de viver um para outro», lamenta.

com a monotonia instalada, o que é que antónia ainda assim considera positivo no casamento? «o melhor é o conjunto que a família, amigos, património e objectivos comuns representam».

afonso, de 31 anos, funcionário de uma empresa de telecomunicações, não está no secondlove apenas para flirts virtuais. ao sol assume já ter traído, «algumas vezes», a companheira com quem vive há cinco anos e com quem mantém uma relação há dez. mas não lhe passa pela cabeça deixar a parceira: «complementamo-nos na perfeição». o problema é o habitual: a rotina. «ao fim de algum tempo, até a perfeição satura; é complicado gerir estas emoções e, depois da primeira traição com sucesso, começa a ser difícil parar», refere.

no secondlove, tem falado com uma mulher com a qual já se encontrou. ao ver a foto de perfil dela, sentiu-se atraído pelos olhos. marcaram encontro no café do atrium saldanha, em lisboa, e não houve decepção. «visualmente não desiludiu, muito pelo contrário; como pessoa é muito agradável de se estar», conta.

a «curiosidade e a expectativa de uma emoção» motivaram eduardo, 45 anos, gestor numa multinacional, a inscrever-se no secondlove. passa entre uma a duas horas no site, em jogos de sedução. casado há dez anos, assume que o objectivo é ter envolvimento físico com alguém. diz precisar de quebrar a monotonia, mas sublinha que não quer perder a «amizade e companheirismo» que mantém com a mulher.

eva, solteira, encontrou no secondlove uma forma de conhecer pessoas. considera-se uma mulher «extrovertida, com personalidade forte, independente, feliz, que adora a vida e adora namorar». assume que foi honesta no perfil que criou, mas que acabou por alterar a idade real porque «os 42 anos estavam a ser um entrave».

esta secretária, de lisboa, explica que só frequenta o site por comodismo e «falta de tempo para ‘andar por aí’ à procura de alguém». e lamenta a falta de honestidade que encontra na internet: «ando um bocado desiludida com esses sites, é só mentira e sexo puro e duro; eu amo sexo, mas antes de o fazer gosto de conhecer as pessoas minimamente».

liliana.garcia@sol.pt