Uma senhora é uma senhora

Sem querer alimentar o espírito do gossip gratuito típico da silly season, escrevo esta crónica esperando que o Senhor Alfredo Barroso a leia, de preferência com canetas de várias cores para sublinhar o que dela retirar de mais relevante, como é seu hábito quando se prepara para os debates políticos nos quais ainda participa.

infelizmente, os laboratórios farmacêuticos nunca se dedicaram a investigar a causa do que considero um desvio grave do comportamento humano e que dá pelo nome de misoginia. e é pena, porque o senhor sofre sem dúvida deste mal, que, não sendo ainda considerado uma patologia, tem contudo manifestações gravosas, diria até mesmo, vergonhosas, como se viu no debate em directo com teresa caeiro moderado por mário crespo no dia 26 de julho, na sic notícias.

nunca fui uma militante no que respeita à política, mas sempre fui uma defensora das mulheres e uma fervorosa militante contra a misoginia enquanto conduta dos machos, sejam eles burros, cães ou pessoas. para que entenda melhor a figura que fez, aconselho-o a rever-se no ecrã, pois a sua postura só pode ser classificada de odiosa: os seus comentários oscilaram entre o melífluo, o maléfico, o ordinário e o ridículo, e a sua atitude de provocação e de desafio que resvalou para a desconsideração fácil deram uma imagem terrível de si.

valeu-lhe a postura inalterável de teresa caeiro, que além de ser uma mulher notável é também uma senhora, e que por isso mesmo, em momento algum, se deixou beliscar pela sua atitude, que em bom português se poderia definir como ‘abaixo de cão’.

nem sequer tenho nada contra cães. por sinal, sou uma feliz dona de dois pastores alemães, o big e a cuca, seres de bom coração e de modos razoáveis, treinados para me protegerem dos ladrões, mas que infelizmente nunca poderão ser treinados para me defender de atitudes misóginas das quais já fui alvo, como é aliás comum nas mulheres que se destacam neste país de machistas.

o big e a cuca, por melhores cães de guarda que sejam, não me podem proteger da misoginia porque para tal mal não existem ainda nem treino, nem remédio.

em portugal há cada vez menos senhores e cada vez mais senhoras. raramente vejo um homem abrir a porta a uma mulher, despir o seu casaco para a proteger do frio, passar para o lado de fora da rua ou ajudá-la a sair do carro. os números respeitantes a casos de violência doméstica continuam a aumentar no território.

a misoginia nacional manifesta-se nas coisas grandes e nas pequenas – pode ir de uma sova de cinto a um chorrilho de comentários desagradáveis e, perdoe-me a sinceridade, bastante parvos. e foi esse o papel que fez, demonstrando falta de classe, de nível e de educação.

pensando melhor, uma vez que se mostrou tão abespinhado no que respeita ao desempenho do governo – com pouco mais de um mês em exercício –, quanto aos impostos, vou propor ao ministro da finanças e ao primeiro-ministro a criação de um imposto extraordinário sobre a misoginia. parece-me que o senhor iria pagar a taxa máxima. e com tanto misógino que há por aí, estou certa de que tal medida, devidamente implementada, ajudaria a equilibrar as finanças.