Gestora de qualidade de chocolates: trabalho de sonho

«Há quem diga que eu tenho um trabalho de sonho», admite Sofia Vieira da Silva, 38 anos, directora do departamento de Investigação, Desenvolvimento e Qualidade e gestora de qualidade da Imperial. Natural de Coimbra, mas a viver no Porto «desde sempre», Sofia foi trabalhar para o maior fabricante nacional de chocolates em 2007. Prova –…

gosta «mesmo muito» de chocolate e gosta do cheiro que leva no cabelo quando deixa a fábrica da imperial, em vila do conde, por volta das 18h, depois de mais um dia de trabalho. apesar da prova de chocolates ser algo inerente à sua profissão, sofia não é provadora de chocolate – o epíteto, que já lhe atribuíram, é redutor face às suas responsabilidades e funções na imperial.

formada na universidade católica, a responsável trabalhou «ano e meio a dois anos» na indústria dos vegetais minimamente processados e em segurança alimentar na área da pastelaria. em março de 2007, entrou na imperial como responsável da investigação e desenvolvimento e gestora de qualidade. desde 2009 que dirige o departamento de investigação, desenvolvimento e qualidade, composto por mais duas pessoas.

o dia de sofia vieira da silva começa pelas 9h, «a saber o que estamos a produzir», avança. a manhã é passada a ler e a responder a emails, a monitorizar e gerir os processos de fabrico em curso, a contactar fornecedores e clientes – com quem a imperial tem contratos de manufacturing – e a sentir o pulso às necessidades dos consumidores. a empresa recebe sugestões via carta, correio electrónico e facebook e analisa todas esses inputs.

na fase inicial do desenvolvimento de um novo produto, e já depois de auscultar os mercados, sofia pesquisa novas matérias-primas e contacta fornecedores, antes de propor «um conjunto de massas de chocolate e de inclusões e/ou recheios». são pedidas amostras e fichas técnicas (com as características físico-químicas, microbiológicas e de aplicação) destes produtos e uma das auxiliares do departamento fica encarregue de fazer o desenvolvimento do produto «à escala laboratorial», ou seja, o protótipo. destas experiências, há produtos «que têm potencial para avançar, outros não». e, no processo, sofia prova chocolate todos os dias.

o painel de provadores internos da imperial tem 10 pessoas, «de todas as áreas da empresa», da produção ao controlo de qualidade, sublinha. «se vamos lançar um produto, é porque existe alguma necessidade por parte dos consumidores. somos pró-activos», explica.

tendo um lançamento em mente, a equipa de sofia vieira da silva faz reuniões de brainstorming semanais ou de 15 em 15 dias. a análise da viabilidade de um novo produto e o estudo de marketing acontece em paralelo com a investigação e desenvolvimento. o departamento tem de estar «muito atento ao mercado» e fazer uma «vigilância tecnológica muito apertada». a engenheira explica que só assim, antecipando as necessidades dos consumidores, «a melhorar os produtos e a lançar novidades ou a actualizar embalagens», é que a imperial consegue estar na posição em que está. em 2010, o volume de vendas da empresa foi de 20,3 milhões de euros e a exportação representou uma fatia de 20%. mais impressionante é a taxa de crescimento de vendas da imperial nos últimos 5 anos: 50%.

«há depois uma fase em que apresentamos o produto em reunião de projectos, a ver se tem pernas para andar. há produtos que passam, outros não, e alguns em que é sugerido alguma melhoria». depois de o produto ser aprovado – a decisão final cabe à administração, que «tem uma presença muito forte em todos os projectos» na imperial –, é produzida a chamada série zero, o primeiro lote do produto. e, «muitas vezes, entre o protótipo e a série zero, há produção a uma escala semi-industrial ou mesmo industrial». até um novo chocolate chegar ao mercado, «pode demorar 3 ou 4 meses a um ano e meio». a partir do momento em que o produto sai para o mercado, o departamento de id «controla o processo».

sofia visita regularmente «o próprio mercado. vendo o que a concorrência vai fazendo», justifica –, faz contactos diversos e diariamente recebe um conjunto de informações que lhe chegam ao correio electrónico. «vamos a feiras do sector três/quatro vezes por ano. estamos presentes, por exemplo, na feira ism [international sweets and biscuits fair], que acontece em colónia, na alemanha, no final de janeiro».

nas fábricas – a unidade mais antiga de vila do conde e a nova linha de fabrico de massas de chocolate, moldagem e embalagens, que a imperial inaugurou recentemente –, está «sempre a circular». a linha de produção é onde passa mais tempo. «e é a parte que eu mais gosto. o aliciante disto é trabalhar no local e em estreita colaboração com as pessoas», confessa a engenheira. «um dia numa indústria nunca é igual a outro», assegura.

o departamento pelo qual sofia é responsável controla «todas as matérias-primas, todos os materiais de embalagem, produtos em curso de fabrico e produtos finais». fazem uma análise granulométrica e a prova sensorial das massas – o ideal seria provar de manhã, como noutras provas sensoriais, mas, quando se trata de um produto em curso de fabrico, o timing é o da linha de produção – e analisa-se a viscosidade do chocolate.

quem lida com o produto também prova «e quem trabalha o produto são as pessoas que estão na linha», explica a engenheira. «aprendo com as pessoas que estão ali e que, melhor do que eu, sabem do produto e do processo», garante. o controlo de qualidade – uma ronda à produção como a que o sol acompanhou – é feito duas vezes por dia. acontece também depois de os produtos saírem para o mercado, «ao longo do seu prazo de validade, normalmente 18 meses. guardamos numa sala própria uma amostra de cada um dos lotes que produzimos e fazemos periodicamente estas análises».

diariamente, sofia vieira da silva, que à licenciatura acumulou um mestrado em ciência e tecnologia alimentar e um doutoramento em engenharia bioquímica, faz o acompanhamento do sistema de segurança alimentar – a imperial é certificada pela norma ifs – international food standard – e a gestão da investigação, desenvolvimento e inovação. e é nesta altura do ano, com a paragem anual da produção (normalmente, em agosto), que a engenheira alimentar tira férias.