Marmita no museu

A discussão não é de hoje: pode o gosto de comer conviver com a contemplação de uma obra de arte? Pode, se a beleza da segunda não nos causar palpitações como se tivéssemos Síndrome de Stendhal. Talvez fosse esse o problema do assassino que correu as bocas do mundo este ano por matar um espectador…

para teresa vilaça, directora da casa-museu medeiros e almeida, que durante o mês de agosto convida quem queira a conhecer uma peça de arte na hora de almoço, ali não há esse risco: «as sandes não fazem o barulho das pipocas e portanto ninguém se incomoda».

a iniciativa, a decorrer no n.º 41 da rua rosa araújo, perto do marquês de pombal, em lisboa, chama-se almoços com arte. e tem como objectivo rentabilizar essa hora livre do dia: «enquanto se come uma sanduíche sentado numa cadeira à volta de uma peça, ouvem-se várias histórias que a enquadram».

porque «os portugueses não gostam de ir a museus nem têm nunca tempo para o fazer» a actividade foi pensada para durar 15 minutos – o sol experimentou e viu a curiosidade dos participantes duplicar o período. e embora se dirija a todo o tipo de público, o mais esperado é o jovem: «os yoco, de young cosmopolitan [jovens cosmopolitas], que trabalham nesta zona e andam sempre à procura de algum sítio simpático para almoçar por pouco tempo».

em período de experimentação até 26 de agosto, de segunda a sexta, sempre às 13h30, e com entrada gratuita e sem necessidade de reserva (mas limitada ao mínimo de cinco e ao máximo de 15 participantes), os almoços com arte percorrem 26 peças da colecção permanente de um dos maiores mecenas de arte que portugal conheceu: antónio medeiros e almeida. entre elas o serviço de chá de napoleão bonaparte, um quadro de brueghel e o relógio de sissi da áustria. preciosidades q.b. para esta ser considerada uma das mais valiosas colecções de artes decorativas do país.

facto que parece ignorado pelos portugueses, aponta teresa vilaça, que se inspirou numa iniciativa da national gallery, em londres, para estas visitas rápidas. «os museus cá têm todas as mais valias existentes no estrangeiro». o que falta, diz, «são as filas de público que vemos em paris, londres, madrid ou nova iorque».

aisha.rahim@sol.pt