empina ligeiramente o nariz. olha para cima. tenta não perder o equilíbrio enquanto salta. finge que está a desfilar. atira a mala ao ar. vira para a direita. coloca as mãos sob o queixo, depois sobre a cintura e volta a virar-se. «agora para a esquerda. é isso!».
de objectiva centrada nos movimentos de ana filipa, o fotógrafo não deixa passar sem registo uma única pose. atrás dele, de olhar vidrado na sessão fotográfica, a actriz paula lobo antunes – para aqui chamada na condição de voluntária –_ compõe o enquadramento. «espera! o cabelo está torto».
em passo de corrida, paula interrompe os flashes, ajeita o penteado de ana, regressa aos bastidores e não se cansa de partilhar as boas impressões. «bem. que à-vontade! até parece uma modelo profissional».
talvez venha a sê-lo um dia? parca em palavras, ana encolhe os ombros, franze os lábios, e num despachado sotaque da madeira, embrulhado nas indefinições dos seus adolescentes 14 anos, atira: «huumm. não sei».
embaixadora paula lobo antunes
neste instante, quando já se fotografaram quase três horas desde as primeiras imagens, a dúvida desta jovem fã de fotografia não abala a certeza do momento: com esta produção de moda, cumpre-se mais uma missão da fundação realizar um desejo.
hoje com ana filipa no centro da acção, amanhã talvez com francisco, priscila ou bruno, três dos nomes que se lêem na lista de espera da fundação, nascida para concretizar sonhos de crianças e jovens diagnosticados com doenças graves.
o movimento, criado nos eua há mais de 30 anos, marca presença em portugal desde 2007 e soma já três moradas – lisboa, porto e coimbra – às quais se deve juntar, até ao final do ano, um par de novas direcções no algarve.
não estranha por isso, que, entre declarações de elogio a ana filipa, dicas de poses para as fotografias e reparos de imagem, paula lobo antunes abra espaço para uma campanha de mobilização.
«venham. juntem-se a nós. precisamos de angariar o maior número de voluntários possível».
parte da realizar um desejo desde o arranque da organização em portugal, a actriz acumula agora o papel de voluntária com a missão de embaixadora.
«basicamente tenho de ser eu e, enquanto figura pública, dou a cara por uma fundação na qual acredito», resume o rosto português mais mediático daquela que é considerada a maior organização mundial dedicada à realização de desejos.
com mais de 250 mil pedidos satisfeitos nos 36 países afiliados, a make a wish – a designação original – movimenta uma rede de 30 mil voluntários em todo o globo. há três anos na fundação, a portuguesa madalena santos, uma das cerca de 100 voluntárias no país, colaborou em 30 dos 74 desejos já realizados por cá.
como nasceu a make a wish
nos sonhos ainda infantis, christopher james greicius vestia a pele de um agente da lei. mas um obstáculo interpunha-se entre o pequeno chris, de sete anos – vividos no estado norte-americano do arizona, num já distante 1980 –, e o futuro: um diagnóstico de leucemia.
as más previsões médicas, agravadas na primavera desse ano, apressaram um amigo da família, tommy austin, a cumprir uma adiada promessa: proporcionar à criança um passeio num helicóptero da polícia. empenhado na concretização dos sonhos do menino, austin mobilizou de tal forma a comunidade do arizona que, além de sobrevoar a cidade, chris visitou as instalações da polícia e foi distinguido como primeiro agente honorário da instituição.
mas os agentes quiseram fazer mais e logo após o primeiro encontro com chris, a 29 de abril de 1980, colocaram três costureiras de serviço para lhe oferecerem um uniforme policial à sua medida. o presente foi entregue já a 1 de maio, e com ele chegou também um mini teste de condução. uma vez superado foi-lhe entregue um emblema que chris fez questão de manter por perto até ao seu último dia, vivido a 3 de maio.
confortadas pelo apego do menino às lembranças policiais, as mesmas pessoas que se organizaram para o surpreender decidiram prolongar esforços em nome de outros pequenos pacientes. a iniciativa deu origem à make a wish (mw), fundação criada em 1980 para realizar desejos de crianças e jovens diagnosticados com doenças graves. primeiro nos eua, agora noutros 35 países, a mw orgulha-se de realizar um sonho a cada trinta minutos.