eis que consegui finalmente tirar férias e vim para a côte d’azur durante cinco dias, para dormir, nadar, ouvir música e divertir-me.
gosto de saint-tropez por tudo o que tem de excessivo. quando era miúda ficava fascinada com os filmes da disney. ainda gosto de ver a pequena sereia, mas a vila mítica onde brigitte bardot viveu durante décadas produz em mim o mesmo efeito. saint-tropez é o lugar de culto do luxo. tem táxis jaguar, não raro vê-se uma loja de marca fechada para um cliente especial e, por cada cem turistas femininas, 99 já levaram toques de bisturi na cara, no peito, no rabo ou em todo o lado.
é o único lugar do mundo que conheço onde as mulheres vão para a praia de saltos altos (agulha) e quase nunca dão um mergulho, porque o contacto com a água estraga a base, o blush, o rímel, o bâton, o eyeliner e o cabelo. em vez disso, as pessoas almoçam nos restaurantes da praia onde os dj da moda rodam e, antes das quatro da tarde, graças ao champanhe a rodos e à comida leve, está tudo aos pulos, com as belezas mais afoitas em cima das mesas a dançar, de saltos, exibindo a arte que os cirurgiões do mundo aplicaram nos seus corpos – o que faz com que os narizes sejam todos iguais, os rabos, os peitos e as extensões no cabelo idem.
é o chamado filet mignon com pernas.
saint-tropez é a maior feira de vaidades que conheço. os milionários que têm os seus iates atracados no cais nem sequer olham para as pessoas que passeiam na rua à espera de ver uma celebridade. para eles, somos formigas, totalmente invisíveis. ao final da tarde, os bares enchem-se de gente; há música ao vivo e todos os lugares estão a abarrotar.
mas também há quem prefira ficar na piscina do hotel, que mais parece uma loja de luxo multimarca. ontem contei 22 sacos vuitton antes do almoço e hoje conheci uma russa casada com um magnata do médio oriente que ando a observar desde que cheguei. já a vi com cinco birkins: branca, bege, amarela, cor-de-laranja e azul-turquesa. felizmente levava as minhas sandálias chanel camellia, um must deste verão, senão ter-me-ia sentido a própria da gata borralheira a esfregar a escadaria do palácio.
tal como acontece nos contos de fadas, há algumas figuras que se transformam em abóboras a meio da noite; a maquilhagem borra e as pernas incham por causa dos saltos excessivamente altos. mas como já está tudo regado a champanhe desde as quatro da tarde e o estado de euforia é permanente e toca a todos, ninguém se importa.
de vez em quando os seguranças irrompem pelas discotecas e arrastam pelo braço duas jovens mais suspeitas, enquanto em cima de um balcão se abana languidamente uma beldade com um curtíssimo vestido de paillettes sem cuecas, que nunca é detida, porque ou se está só a divertir, ou é protegida de alguém.
saint-tropez não é o conceito de férias nas quais uma pessoa descansa, lê e mata o tempo a não fazer nada, mas é uma verdadeira aventura sociológica. e vale sempre a pena, porque o que se vive ali não se vive em mais nenhum lugar: o luxo pelo luxo, o excesso pelo excesso, a loucura pela loucura, que é tantas vezes a essência do verão.
vai mais uma flûte?