Cuidado com as temperaturas

Quando se toma cerveja, a regra de serviço na restauração e nas nossas casas é consensual: a cerveja bebe-se fria. E com razão: o frio faz com que o gás dissolvido se escape mais lentamente, e possibilita uma melhor degustação.

tal como a cerveja, e ao contrário do que se pratica em portugal, nenhum vinho deve ser consumido à temperatura ambiente. os vinhos brancos e rosados devem ser servidos entre nove e 11º c e os tintos entre 16 e 18º, ou seja, os vinhos tintos devem ser refrigerados (atenção à temperatura dos próprios copos).

o vinho contém álcool e outros compostos que se evaporam facilmente. ao servirmos a uma temperatura elevada, estamos a reduzir ou a piorar a maior parte dos compostos nobres que caracterizam o aroma e o gosto do vinho – é o que se passa à temperatura ambiente, que nos restaurantes e em casa está quase sempre acima dos 22º c.

o vinho torna-se plano na boca, quente no nariz, fazendo lembrar uma sopa; e eu até gosto muito de sopas, mas o tempo das sopas de vinho já pertence à história (esta bebida energética que resulta da mistura de vinho, pão, açúcar e canela não deve ser, em caso algum, proposta a uma criança ou jovem, por se tratar de um bebida alcoólica; também os adultos não devem consumi-la por se tratar de um alimento desequilibrado, que cria dependência e que gera vários malefícios para a saúde. qualquer bebida alcoólica deve ser bebida apenas por prazer e com moderação).

no verão, o serviço do vinho tinto e dos vinhos fortificados, como o porto, o madeira ou os moscatéis, é ainda mais sofrível. peço ao leitor que contribua para esta mudança de atitude: sempre que lhe propuserem uma garrafa de vinho tinto que não se encontre refrigerada para a temperatura de serviço, peça um recipiente com gelo e exija a colocação do seu tinto no gelo ou água gelada durante cinco a dez minutos.

na maioria dos restaurantes nacionais, provavelmente terá que lidar com o sarcasmo e o discurso obsoleto de algum ‘professor encartado’, do mais ilustre entre os empregados, ou mesmo do próprio dono do estabelecimento. tente explicar com os argumentos que aqui lhe transmito e, se não se importar, proponha que o ‘professor’ prove um pouco do vinho na temperatura correcta. também pode propor que, nesse restaurante, passem a comprar este seu semanário e a ler estas crónicas. a proposta é válida em portugal, angola e nos demais países da lusofonia. porque o sol quando nasce é para todos.

anibal.coutinho@sol.pt