muito se tem discutido nos últimos anos sobre a possibilidade e a justeza de se taxar as grandes fortunas. há países onde isso acontece e outros que assistem à debandada dos seus capitais para nações mais benevolentes com os senhores do dinheiro. numa altura em que a crise não sai das manchetes e dos telejornais – parece que cada dia é sempre pior do que o anterior, como se estivéssemos a descer um poço sem fundo – seria interessante que os responsáveis políticos começassem por tentar uniformizar regras fiscais que poderiam contribuir para uma justiça social mais consentânea com os dias de hoje. faz algum sentido, por exemplo, uma empresa portuguesa ter sede na holanda só porque este país tem outras regalias fiscais? faz algum sentido permitir a concorrência desleal entre países do mesmo clube? parece-me que não. muito se tem dito e questionado sobre o estado social, modelo que a maioria acredita estar em ritmo acelerado para a falência. mas será que terá de ser mesmo assim? boa parte dos portugueses não imagina o que é um verdadeiro estado social se atendermos aos subsídios que usufruem muitos dos habitantes dos países mais desenvolvidos dauniãoeuropeia, onde os desempregados são apoiados no arrendamento das casas, na luz e na água, só para citar os mais evidentes. recorde-se que nos acontecimentos recentes da grã-bretanha muitos dos habitantes que assistiram aos actos de vandalismo exigem que os autores das pilhagens e destruições percam todas as regalias e que deixem de viver à custa da segurança social.
voltando aos impostos sobre as grandes fortunas, que sempre foram defendidos pelos partidos de extrema-esquerda, a verdade é que vão estar cada vez mais na ordem do dia. não é só o caso de warren buffett, o terceiro homem mais rico do mundo segundo a revista forbes, a ‘pedir’ ao governo americano que crie uma taxa mais elevada para os rendimentos superiores a um milhão de dólares e outra para facturações acima dos 10 milhões.
é certo que não se pode proteger aqueles que não querem produzir e que acham que a sociedade os deve sustentar, mas também não deixa de ser verdade que o mundo dito civilizado não pode permitir que milhões acabem excluídos socialmente, sem emprego, dinheiro nem dignidade.
há quem defenda que a europa está condenada a viver sem as regalias adquiridas ao longo de centenas de anos devido à concorrência desleal de outras nações. mas o que se começa a ver é países como a china a acordarem para a contestação social. a classe média irá, tudo o indica, exigir regalias à europeia. o futuro pode não ser tão negro.
vitor.rainho@sol.pt