começou por pedir licença: «posso?». de gerência em gerência, pelos bares de uma luanda ainda resistente a fórmulas de entretenimento improvisadas, domingos dionísio foi coleccionando permissões para subir ao palco e contar umas piadas. primeiro por uns minutos rigorosamente cronometrados, depois pelo tempo de vários espectáculos, agendados segundo a aceitação dos espectadores. «como conseguia arrancar aplausos do público, as pessoas começaram a perguntar: ‘porque é que não apareces na próxima semana’? foi assim que fui ganhando espaço», conta ao sol o angolano, agora em lisboa à conquista de novos públicos.
«quero começar a fazer shows noutros pontos do mundo», revela domingos, hoje mais conhecido pelo nome artístico: calado show. calado por herança familiar – «tinha um avó com esse nome, por isso fiquei o calado neto» – e show por necessidades de palco.
«um dia estava na gala à sexta-feira [antigo programa de tv] e pediram o meu nome. eu respondi calado e aí disseram: ‘não vai ficar bem para um artista que dança como você, com esse show’. então ficou calado show».
as memórias de baptismo artístico recuam a história do humorista aos tempos de adolescente, fase em que se iniciou nos palcos ainda como bailarino, mas já com manifestações cómicas à mistura.
«enquanto dançava fazia umas caretas», conta, sem perder uma oportunidade para ‘sacar’ de um novo trejeito.
dono de uma linguagem mais corporal do que verbal, este angolano sem ano de nascimento – «não gosto de dizer a minha idade mas posso garantir que nasci em 1900 e qualquer coisa» – é o primeiro a defender a importância visual dos seus espectáculos.
«só ouvir o calado é um bocadito complicado. ver o calado é outra coisa».
por isso, ao cd de anedotas lançado em 2010 sob o título posso?, o humorista espera juntar, até ao final deste ano, um dvd com actuações em vários palcos. da casa 70, um dos espaços onde dá espectáculos em luanda, aos desafios da diáspora, inaugurados a partir da lisboeta aula magna. a mesma sala que, há pouco mais de um mês, se rendeu ao humor dos também angolanos tuneza.