e o maior aliado do amor é a vontade: vontade de estar, de viver, de partilhar, de construir, de acreditar que o impossível se pode tornar possível, ainda que todas as probabilidades indiquem o contrário.
há relações que aparentam ter tudo para dar certo e mesmo assim não funcionam, e outras que, parecendo equações impossíveis, resultam. qual o segredo que faz com que uma relação dure e perdure, sobrevivendo aos embates exteriores e às erosões internas? por vezes só o amor não chega. é preciso uma grande dose de confiança no outro e em si próprio, porque é a confiança que permite o diálogo, o confronto quando este é impossível de evitar e finalmente, o entendimento. cada vez que algo corre mal, ou menos bem, o pior a fazer é ficar com medo. claro que há um reflexo quase automático para uma pessoa se refugiar na trincheira, deixar que o outro faça o papel do carrasco e nós o de vítima – ou vice-versa – e esperar. esperar que o tempo resolva, que as circunstancias se alterem, que a nuvem passe, que o dia seguinte nos traga uma nova visão, mais informação, mais clarividência ou mais paz. esperar pode ser uma solução, mas apenas quando temos a certeza de duas coisas: de que a razão está totalmente do nosso lado, ou totalmente do outro.
sem confiança no outro, sem essa capacidade cultivada de lhe dar o beneficio da dúvida, tudo pode ruir rapidamente, como um castelo desenhado no ar pelo sopro inspirado de uma nuvem apaixonada. há que ter paciência e vontade de pacificar as coisas, assumir a personalidade de um velho e sábio chefe índio que se senta com o adversário à volta da fogueira e lhe tenta explicar que nunca foram inimigos e que deseja que a paz seja alcançada, celebrando tal feito com o mesmo orgulho e glória que sentiria ao vencê-lo em pleno campo de batalha. diz a bíblia que mais difícil do que conquistar uma cidade inimiga é termos mão em nós. quando a fúria nos corre no sangue e a mostarda nos chega ao nariz, em vez de acusar, de explodir, de apontar o dedo e depois regressar orgulhosamente à trincheira que nos convida ao isolamento, mais vale ir dar uma volta de bicicleta, fazer jogging, beber uma imperial ou fumar um cigarro, contar até 10 ou até 100 e esperar que a onda passe.
a confiança é e será sempre a nossa maior aliada. e é algo que se aprende, como quem aprende a andar no arame, com a vontade na ponta da vara e o bom senso na outra, sem nunca esquecer que uma relação amorosa é sempre uma aventura que envolve o risco de ir ao tapete. nada de fechar os olhos, de recuar, de olhar para baixo, de deixar que a vertigem de falhar nos traia. há que seguir em frente, a passos moderados e cautelosos, acreditando sempre que vamos conseguir chegar ao fim do arame e que do outro lado nos espera a paz merecida de uma estabilidade construída a pulso, com coragem e sem medo. e para aqueles que têm medo, aconselho um cão treinado em fazer habilidades, por opção à travessia no arame.