Pedro Ferraz da Costa: ‘Folhetim da TSU tem sido lamentável’

Entrevistado pelo SOL poucas horas antes de o Governo anunciar mais um pacote de austeridade e de o ministro das Finanças mostrar alguma inclinação pela descida da Taxa Social Única (TSU) apenas para empresas que criem emprego, o presidente do Fórum para a Competitividade mostra desagrado pela forma como esta medida tem sido analisada. Critica…

dois meses após a tomada de posse do governo, que avaliação faz?
este governo beneficia de um factor extraordinário, que é a comparação com o anterior. confesso que já me sentia angustiado, nos últimos dois anos, com a nitidez com que via o país a caminho do abismo, com a posição completamente louca do engenheiro sócrates e a posição que ninguém conseguia perceber do ministro das finanças. neste momento podemos sentir-nos tranquilos, porque estamos entregues a um governo de gente séria e responsável. começo apenas a sentir alguma impaciência quanto a medidas relacionadas com o crescimento da economia. e considero a forma como tem sido conduzido o folhetim da tsu perfeitamente lamentável.

porquê?
não sei como o governo deixa perdurar esta dúvida. o estudo publicado tem erros económicos desde o sumário executivo. em portugal a tendência é que, em cada dia que passa, se apresente uma solução mais extraordinária, mais fora do vulgar. e toda a gente se afasta de uma realidade: somos membros da ue e todas as teses de descer um pouco a tsu para uns, e mais para outros, e escolher sectores, não passam em bruxelas.

continua a defender uma redução generalizada de 20 pontos percentuais?
sem dúvida. teríamos ganho bastante com uma solução francamente mais marcada. é essencial que as empresas tradicionais exportadoras, que funcionam num ambiente muito concorrencial, possam baixar os preços de modo a ganharem quota de mercado. se não tomarmos rapidamente medidas para facilitar a vida aos sectores transaccionáveis, teremos uma taxa de desemprego assustadora e entraremos num sarilho monumental.

nas condições actuais haveria margem para subir o iva de modo a que as receitas da segurança social não fossem afectadas?
é uma questão de querer e de mexer nas taxas reduzidas. há muitos produtos com taxas reduzidas sem qualquer justificação.

uma das críticas ao governo é que tem sido muito lesto a aumentar impostos e lento nos cortes de despesa. concorda?
não podemos esquecer-nos que passaram dois meses sobre a posse. e é uma vantagem que os governantes tenham pouca experiência governativa, num país de relações muito próximas e comprometidas. mas, em contrapartida, demoram mais tempo a compreender a dimensão total dos problemas. a curto prazo, não vejo hipótese de fazer muita coisa.

o que gostaria de ver no oe2012, a nível de corte de despesa?
num orçamento em que a saúde e a educação têm o peso que têm, não é possível reduzir muito significativamente sem entrar por aí. há um grau de desperdício absurdo no serviço nacional de saúde. criámos tantos hábitos, que já não são os utentes a defender os serviços, são os seus prestadores: as termas, os táxis e os bombeiros que transportam as pessoas. gerou-se um negócio à volta de uma concessão muito facilitadora de benefícios, que vai ser muito desagradável pôr nos eixos. em termos de medidas emblemáticas, também veria como muito importante – para mim vai ser um teste – arrepiar caminho no que diz respeito ao poder local. é um embate decisivo.

e na saúde?
não tenho dúvidas de que o dr. paulo macedo vai concretizar os objectivos fixados. conhece o sector e é uma pessoa com um perfil propenso para racionalizar e economizar. há muitas áreas do governo que me inspiram grande tranquilidade. sinto-me um cidadão muito mais descansado do que há um ano ou dois. nessa altura, não sendo assustadiço, estava horrorizado. estivemos várias vezes à beira de um default desorganizado e ninguém faz a mais pequena ideia do que isso é. neste momento esse risco está a ser monitorizado por pessoas em quem se pode acreditar.

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joao.madeira@sol.pt