Vem agora o seu vice com uma versão muito própria dos oito anos em que esteve na Casa Branca. E, surpresa, em mais de 600 páginas também não tem memória de qualquer erro em que tenha incorrido. Só que se em Bush se reconhece a possibilidade de ser um pobre diabo, bem intencionado, mas cujas limitações deram no que deram, em Cheney não há leviandade nem incompetência: afinal, foi ele quem convenceu W. Bush a aventurar-se no Iraque, para gáudio da Halliburton, a empresa que o tornou milionário.
Enquanto o ex-Presidente não se deteve a ajustar contas com o passado nas suas memórias, o seu número dois não só o fez como o publicitou. Numa entrevista de lançamento de In My Time, atirou que iriam «explodir cabeças em Washington» à conta do livro, no qual criticou de forma ácida ex-colegas da Administração, em especial Colin Powell. O que levou o então chefe de pessoal do secretário de Estado, Lawrence Wilkerson, vir a terreiro dizer que foi Cheney quem presidiu aos EUA nos primeiros quatro anos.
Mas pior que a maledicência:Cheney reitera que voltaria a actuar fora da lei, permitindo a tortura de suspeitos, escutas ilegais e o que mais fosse.E que voltaria a invadir o Iraque,esquecendo-se dos mais de cem mil mortos causados. Uma nódoa para a democracia norte-americana.