Tsunami de amor

Não há como um grande desgosto de amor para potenciar ao máximo o talento criativo. Adele, a cantora britânica que se tornou o maior fenómeno musical depois de Amy, era uma rapariga de olhos grandes e coração partido em mil bocados que decidiu reverter em letra e música toda a tristeza e angústia que emergem…

o resultado é um tsunami de emoções, com um conjunto extraordinário de canções que conquistou o mundo. o seu disco 21 é uma lição de amor, da primeira à ultima letra. e cada palavra e frase entram-nos para o sistema sanguíneo, à velocidade da luz. o sofrimento de adele tornou-a a porta-voz de todos os homens e mulheres que viveram e perderam um grande amor.

o mérito de adele, além do talento inequívoco como cantora e compositora, é a sinceridade. como qualquer artista de mão cheia, ela troca o pudor pela verdade e deixa que o mundo veja o sangue que lhe escorre das feridas, sem nunca ser lamechas nem perder a dignidade, com aquela força anglo-saxónica que tantas vezes falta às mulheres latinas, mais habituadas a gostarem dos homens que amam do que de si próprias.

adele fala de ausência, de expectativas goradas e de um passado recente que insiste em se manter colado à pele. música após música, vai-nos envolvendo numa teia de inteligência e de sensibilidade, mas sobretudo daquela grandeza única que só sentimos quando somos apanhados por um amor absoluto e incondicional e decidimos, apesar de todas as evidências, vivê-lo e esgotá-lo até ao último beijo e até às últimas lágrimas, que nunca sabemos quando chegam porque cada dia de luto se pode transformar numa batalha silenciosa, entre o que a razão nos aconselha e o que o coração nos impõe, tentando esconder do mundo a nossa fragilidade, ou rebentando por todos os poros com cartas, mensagens, músicas e letras, poemas e citações, cartões e presentes, lutando sempre, contra nós e a favor de uma história de amor maior, da qual não queremos, porque não sabemos como, abrir mão.

as confissões amorosas de adele, quando pede ao amado que a deixe provar o quanto lhe quer bem e o quanto tem para lhe oferecer, são como o grito de um guerreiro exausto, porém indómito, que prefere morrer a desistir, que grita de raiva para afugentar o medo e que está disposto a tudo. estou certa que, enquanto escrevo esta crónica, à volta do mundo as músicas de adele estão a ser enviadas, ininterruptamente, entre amantes e amados, casados e namorados, felizes ou zangados, magoados e arrependidos. e que a sua força e a sua generosidade, serão como pontes de paz e de entendimento para todos aqueles a quem a vida trouxe a grandeza e a tragédia de um tsunami de amor.

obrigada adele por nos dares tanto. aqui, do meu cantinho deste jardim à beira-mar plantado, tenho a certeza que a vida te vai trazer tudo o que mais desejas e mereces.