10 acontecimentos que moldaram o mundo depois do 11 de Setembro

Os ataques terroristas contra as Torres Gémeas e o Pentágono são o acontecimento mais marcante da primeira década do século XXI. De então para cá outros factos deixaram tantas ou mais consequências do que os atentados nos EUA. Escolhemos dez.

1. guerra ao terrorismo
foi com esta formulação vaga que george w. bush respondeu ao 11 de setembro, mas o plano foi objectivo: derrotar o regime dos talibãs no afeganistão e destruir a rede terrorista da al-qaeda, bem como os seus campos de treino. em 2002, já com cabul livre do regime fundamentalista, o presidente norte-americano inclui o iraque num «eixo do mal» composto ainda por irão e coreia do norte, por ter armas de destruição maciça, que afinal não existiam. no ano seguinte, sem o apoio das nações unidas, eua e reino unido derrubam o regime de saddam hussein, que acaba enforcado. a guerra ao terrorismo fica também marcada pela perda de liberdades individuais e de privacidade nos eua (e em aeroportos de todo o mundo), por abusos e práticas de tortura aos prisioneiros em abu ghraib e guantánamo. apesar de vários planos terem sido descobertos, bali, madrid, beslan, londres e mumbai foram alvo de atentados de grande dimensão.

2. ascensão da china e de outros países
o mundo dividido em dois blocos acabou com a queda do muro de berlim e o fim da união soviética. mas a mudança deu-se antes, no princípio dos anos 80, quando a china comunista de deng xiaoping lançou as zonas económicas especiais que atraíram desde cedo multinacionais como a coca-cola. a explosão da economia chinesa deu-se na última década. o ‘império do meio’ é hoje a fábrica do mundo. tem a segunda maior economia e a sua combinação paradoxal de governação socialista e mercado capitalista, mão-de-obra infindável e (ainda) barata é imbatível. mas outras potências emergem, casos da índia e do brasil (este em especial, ao combater com sucesso a pobreza e ao reduzir as desigualdades sociais). o ocidente perde peso e relevância.

3. grandes tragédias
os ataques do 11 de setembro fizeram 2.996 mortos. um horror mas, ainda assim, gotas em comparação com os desastres de enormes proporções que atingiram outros cantos do planeta. em dezembro de 2004, os efeitos do sismo e consequente tsunami que se registou no oceano índico e que afectou em especial a indonésia, o sri lanka, a índia e a tailândia. no total morreram 226 mil pessoas e mais de dois milhões foram afectadas. números dantescos que o terramoto de janeiro de 2010 no haiti conseguiu rivalizar: o paupérrimo país perdeu 222 mil habitantes e quase 3,5 milhões sofreram com o abalo de magnitude 7. outros desastres naturais de graves consequências foram o furacão katrina (eua), o ciclone nargis (birmânia), os sismos em bam (irão), caxemira (paquistão), java (indonésia) e sichuan (china) e a onda de calor que varreu a europa em 2003. a soma de mortos destes desastres naturais dá uma cifra impressionante: 855 mil, segundo um relatório conjunto da cruz vermelha e crescente vermelho.

4. tsunami e crise nuclear de fukushima
o sismo de magnitude 9 ocorrido em 11 de março ao largo do japão, o tsunami e as 900 réplicas que se seguiram tiveram efeitos devastadores em vidas e em destruição. morreram mais de 15 mil pessoas, cem mil casas desapareceram. seis meses depois, 85 mil japoneses ainda estão a viver em abrigos. o prejuízo dos danos calcula-se em 157 mil milhões de euros, sem contar com as consequências do desastre nuclear de fukushima: o terramoto e tsunami destruíram os sistemas de arrefecimento da central, o que provocou explosões e consequentes fugas de radiação, que se mantêm. o acidente veio minar a reabilitação da imagem da indústria nuclear e vários países reequacionaram os seus programas de energia.

5. crise financeira de 2008-2011
sabe-se quando começou, mas não se sabe quando nem como irá estancar. por uns apelidada de grande recessão, por outros de depressão menor, a crise financeira iniciou-se com a falência do banco lehman brothers, especializado em produtos de investimento. foi a face visível da chamada crise do subprime, iniciada quando a alta de juros nos eua levou a que milhares de pessoas – que tinham créditos à habitação mas não tinham condições para as pagar – ficaram em incumprimento. com isso, produtos financeiros de risco associados a esse crédito fácil passaram a ser lixo e gigantes financeiros tiveram perdas colossais; outros faliram e até um país, a islândia, foi pelo mesmo caminho. os estados injectaram dinheiro nos bancos para que o sistema financeiro não entrasse em colapso, mas as consequências pagam-se até hoje: vários países com problemas estruturais como a grécia, irlanda e portugal sobreendividaram-se e lutam para cumprir projectos de emagrecimento com planos de resgate, mas a crise de confiança atingiu outros países como a espanha, itália, eua, e quer o euro, quer os mercados bolsistas enfrentam tempos incertos.

6. redes sociais
depois da popularização do uso dos telemóveis e do acesso à internet, a propagação das redes sociais foi imparável nos últimos anos. estão em qualquer suporte, tv incluída, e servem para coisas tão díspares como coleccionar amigos virtuais, escrever banalidades ou incitar a revoltas. as aplicações mais populares são o facebook, com 750 milhões de utilizadores, e o twitter, com 200 milhões.

7. eleição de obama
marcou o fim de uma controversa presidência, a de george w. bush, que levou o país – que ficou com uma imagem beliscada no resto do mundo – para dois teatros de guerra, e no campo interno para uma espiral de endividamento. a maioria dos eleitores votou por uma mensagem de esperança que pusesse termo aos conflitos e recolocasse o país na senda da prosperidade, ao mesmo tempo que elegia um cidadão de uma minoria que há 60 anos era tratada como segunda classe. mas até agora o mandato de barack obama – excepto o apaziguamento com o mundo muçulmano e a histórica extensão dos cuidados de saúde – tem sido dominado pela crise e pela oposição encarniçada dos republicanos, maioritários na câmara dos representantes.

8. fim dos vaivéns espaciais
a aterragem do atlantis, em 21 de julho, no centro espacial kennedy, na florida, assinalou o fim do programa de vaivéns espaciais dos estados unidos da américa. encerrou-se um capítulo com 30 anos e 135 missões. os veículos espaciais permitiram aos norte-americanos consolidar a liderança no espaço – apesar dos tristemente célebres desastres do columbia e do challenger –, e pôr em órbita o telescópio espacial hubble. o programa espacial da nasa fica em suspenso e agora os eua passam a depender das naves russas para poderem alcançar a estação espacial internacional.

9. criação do tpi
com sede em haia, começou a actividade em 2002. tem como objectivo levar a julgamento responsáveis por actos como crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio. até agora só foram realizadas investigações que levaram a acusações de políticos em países africanos. muammar kadhafi e o filho saif al-islam são os mais recentes procurados. muitos países oferecem resistência ao tpi: 40 não ratificaram o tratado (casos de eua, rússia, angola, moçambique), outros, como a china, índia ou indonésia, nem sequer o assinaram. mas é um avanço na universalidade dos direitos humanos e do direito internacional.

10. primavera árabe
teve como inspirador o falhado movimento verde do irão (não árabe, mas muçulmano), nascido em 2009 após as eleições consideradas fraudulentas pela oposição iraniana e pela comunidade internacional. mas o grito de indignação via redes sociais de dezenas de milhares de iranianos, asfixiados pelo regime dos aiatolas, teve seguidores. em dezembro de 2010, a imolação do jovem tunisino mohamed bouazizi, por lhe ter sido negada a venda ambulante, ateou fogo ao país e a quase todo o mundo árabe, cuja mistura de ditaduras com elevados níveis de desemprego, desigualdades sociais e pressões demográficas formaram um cocktail que degenerou na queda de ben ali (tunísia), mubarak (egipto), kadhafi (líbia) e que mantém outros em guarda.

cesar.avo@sol.pt