Governo pede 3,7 mil milhões extra para tapar ‘buraco’ em empresas públicas

O Governo comunicou aos principais bancos portugueses que o Estado necessita de um financiamento extra na ordem dos 3,7 mil milhões de euros para as empresas públicas, até ao final do ano, apurou o SOL.

este valor acresce ao crédito de «várias centenas de milhões de euros» que tem vindo a ser concedido, nos últimos meses, pelas instituições financeiras portuguesas ao sector empresarial do estado (see), sobretudo na área dos transportes.

além deste dinheiro – e com a ‘torneira’ da banca estrangeira praticamente ‘fechada’ para linhas de financiamento ao see que já venceram ou estão perto da maturidade, tal como o sol noticiou na última edição –, o universo empresarial do estado está também a consumir uma «parte significativa» dos empréstimos da troika, segundo fontes ligadas a este processo.

o governo, no âmbito deste novo esforço que pediu aos bancos portugueses, tem vindo a garantir que está a trabalhar numa «solução que irá aliviar o peso do see na liquidez da nacional», diz uma fonte do sector financeiro ao sol.

entretanto, esta semana, o ministro da economia e do emprego, álvaro santos pereira, admitiu publicamente que «a secagem do crédito deve-se ao endividamento excessivo do estado e das empresas públicas. algo tem de ser feito nesta matéria para isso acabar», prometendo novidades para breve.

o governante considera mesmo que um dos principais problemas imediatos da economia portuguesa é «a crise de liquidez, que está matar muitas empresas privadas por falta de financiamento». para santos pereira, que na quarta-feira passada falava na conferência portugal global, promovida pelo jornal de negócios, «não é aceitável», por exemplo, que as empresas do sector privado não tenham possibilidade de comprar matérias-primas para conseguir exportar, porque muito do crédito é absorvido «pelas necessidades do estado e das empresas públicas».

empresas do estado com dívidas de 38 mil milhões

no final de 2010, o passivo das 77 empresas do sector empresarial do estado ascendia a 38 mil milhões de euros, representando mais de 70% dos activos totais, segundo o anuário do see 2010, patrocinado pela ordem dos técnicos oficiais de contas e pelo tribunal de contas, apresentado esta semana.

neste valor, a dívida à banca correspondia a mais de 25 mil milhões de euros, sendo que, desta, a dívida a curto prazo ultrapassava os seis mil milhões de euros. as dívidas de curto prazo totais deste conjunto de 77 empresas correspondiam a mais de 13 mil milhões. uma grande parte destas empresas terá sérias dificuldades para honrar os seus compromissos, tendo em conta os valores das vendas e prestação de serviços.

a dívida de 38 mil milhões refere-se aos passivos totais das empresas, ajustados à percentagem de participação do estado, seja directamente, seja através da carteira detida pela direcção geral do tesouro e finanças (dgtf). neste montante estão incluídos hospitais e centros hospitalares do see, num valor próximo de quatro mil milhões de euros.

tania.ferreira@sol.pt