Em Maio do ano passado, ao receber o homólogo russo Dmitri Medvedev, impôs-se uma homenagem conjunta aos soldados tombados na II Guerra Mundial. O dia estava tempestuoso e quando Ianukovich estava na pungida pose típica desses momentos, de cabeça baixa, uma rajada atira com a enorme coroa de flores ao não menos enorme chefe de Estado. Presidente e arranjo floral lutaram durante segundos – um momento de humor que se tornou popular na internet e tomou outras proporções porque, acusou a oposição, as televisões foram proibidas de transmitir o embaraço.
Com a condenação da rival Iulia Timochenko conseguiu o pleno: ninguém, do Ocidente ao Oriente, acredita na independência da magistratura nem duvida das motivações políticas que estão bem à vista. O processo a Timochenko tem tudo, porém, para se virar contra o poder instituído e dar novo ânimo a quem já foi apelidada de ‘dama de ferro’ e ‘Joana d’Arc’ da Ucrânia – quando, na realidade, a Justiça teria muito a investigar sobre a forma como Iulia Timochenko arrecadou milhões e milhões anos antes.
Para lá da aparente farsa judicial, Ianukovich personifica a Ucrânia actual. Um país profundamente dividido entre a UniãoEuropeia e a Rússia (rejeitou o convite russo para uma união aduaneira), à procura da modernização, mas com tiques autoritários. O que leva alguns analistas a juntar Ucrânia e Bielorrússia num quadro de ‘inverno oriental’ em oposição à ‘primavera árabe’.