A verdade a que temos direito

Quando surgiu a ideia de as famosas SCUT (auto-estradas Sem Custo para os Utilizadores) passarem a CCUT (Com Custo para os Utilizadores) técnicos credenciados, com altos estudos, seguramente, defenderam que as portagens deveriam ser virtuais, já que a não existência de portageiros implicaria uma diminuição bastante considerável dos custos de manutenção.

não havendo pessoas no sistema, seria só ganhos. aqueles que falaram contra a ‘nova’ filosofia logo foram apelidados de ‘ultrapassados’, incapazes de perceberem os avanços tecnológicos. afinal, um espanhol ou um alemão, por exemplo, antes de entrar em portugal trataria de parar antes da fronteira para comprar um aparelho que lhe permitiria circular nessas auto-estradas. também o argumento de que muitos portugueses deixariam de pagar e aguardariam a prescrição das multas não foram tidas em conta.

a verdade é que há estudos que dizem claramente que todos os dias nas portagens com via verde há milhares de automobilistas que optam por passar sem pagar. só na ponte sobre otejo, há uns anos, eram mais de dois mil os condutores que optavam diariamente por fazer de conta que tinham o aparelho que lhes dava acesso a tal via.

há dias, ao assistir a uma reportagem na televisão, ouvi espanhóis a queixarem-se que portugal é o único país europeu que não aceita euros, já que não têm hipóteses de os usar quando passam pelas tais portagens virtuais. dias depois lia nos jornais que são aos milhares os portugueses que optam por ignorar que precisam de pagar para circular nessas auto-estradas. falta muito até que se perceba que será necessário pelo menos uma cabina para cobrar o serviço prestado. muitas multas andarão perdidas até que alguém entenda o disparate de tal modalidade. mas, por mais que se diga, as resistências ainda são enormes. quando se alterarem as regras, muitos milhares de euros entrarão nos cofres do estado.

é tão certo como os sistemáticos apelos aos ‘indignados’ para que provoquem o caos e a desordem nas ruas do país. não há telejornal que não abra com mais um incentivo ‘à luta’ nas ruas. depois passam imagens de roma e atenas e indignam-se com a diferença portuguesa. mas, curiosamente, não se mostram imagens da irlanda onde a economia parece estar a querer sair da crise e onde não há registo de grandes convulsões sociais. que as pessoas têm o direito à indignação, não merece qualquer dúvida. durante anos caminhámos alegremente para o abismo e quem o dizia era quase linchado na praça pública. não sei se o actual governo está ou não a levar demasiado longe a tentativa de endireitar as finanças, mas sei que não foram quatro meses de governação que deixaram o país onde está. que tal fazer manifestações à porta dos responsáveis?

vitor.rainho@sol.pt