os três, com nuances, comungavam da tese do governo de que: 1) a rtp é cara; 2) que não se justifica o estado ter canais públicos pagos pelos contribuintes para concorrer com os privados.
para além da leviandade dos depoimentos, que revelaram um total desconhecimento daquilo de que estavam a falar (pedro mexia falou mesmo de uma rtp1 que exibe telenovelas, futebol e concursos, ou seja, um canal que não existe), v.exa fez entrevistas de rua a cidadãos que repetiram, sem nenhuma fundamentação, os argumentos estafados que o ministro relvas tem usado para melhor levar avante o seu atentado ao serviço público. no final, quando se esperava, ao menos, uma reserva, se não uma contestação do que havia sido dito, tivemos direito a um sumário neutro do que tínhamos ouvido.
bem sei que, na semana anterior, tinha ouvido três vozes favoráveis à manutenção da estação, entre as quais destaco o testemunho de narana coissoró, uma peça notável de inteligência e visão. e que, no programa seguinte, voltou a recolher três testemunhos positivos, onde brilhou a intervenção de adelino gomes. mas permita-me que lhe diga que esta forma de encarar o papel do provedor me parece, no mínimo, discutível, sendo que, para mim, é inaceitável. v.exa supostamente exerce esse cargo para atender as queixas dos telespectadores aos critérios da programação, não para pôr em questão a própria ideia da existência da estação. quero crer que o fez por sua iniciativa, mas foi infeliz, para não dizer, desastrado. no mínimo, esperava-se que exercesse, em cada um dos programas, o princípio do contraditório, que pusesse em confronto as duas posições, e que, em vez das entrevistas de rua, fizesse uma verdadeira sondagem e não este inquérito ad hoc, sem rigor nem préstimo.
dou-lhe o benefício de imaginar que v.exa não ignora que, a concretizar-se, a privatização do 1.º canal da rtp seria uma medida lesiva do interesse nacional e de efeitos catastróficos para o país, sob todos os pontos de vista – social, cultural, económico. além de que iria acarretar custos brutais aos contribuintes, uma vez que a rtp seria privada da sua principal fornecedora de conteúdos, e provocaria a ruína de, pelo menos, um dos canais comerciais.
repare que não me queixo de um programa qualquer (para isso, ter-me-ia limitado a escrever-lhe para a rtp), mas do próprio programa de que v.exa é actualmente responsável, na estação que o governo pretende extinguir e que o provedor, em nome dos cidadãos, é suposto defender.
com os meus cumprimentos, antónio-pedro vasconcelos
apvasconcelos@gmail.com
