Iemenitas queimam véus em protesto contra o regime

Um lençol negro foi espalhado na avenida principal de Sana, depois as mulheres do Iémen lançaram os véus que as escondem do mundo – os ‘makrama’ – numa pilha à qual pegaram fogo. Enquanto as chamas aumentavam deixaram um recado aos chefes das tribos do seu país: «Quem protege as mulheres dos crimes dos bandidos?»…

à semelhança do que aconteceu no egipto, as mulheres têm desempenhado um papel crucial nas manifestações que grassam no iémen desde março. no entanto, é a primeira vez, em nove meses de manifestações, em que um gesto tão simbólico tem lugar.

as iemenitas ganharam força e mobilizaram-se ainda mais inspiradas por tawakkul karman, a activista iemenita que, em conjunto com duas mulheres liberianas, foi laureada com o prémio nobel da paz pela sua luta pelos direitos das mulheres.

o protesto de hoje, no entanto, não tinha tanto a ver com os direitos das mulheres, como com um gesto de origem beduína segundo o qual, as mulheres ao queimarem o véu pedem auxílio aos líderes das tribos.

o gesto simbólico levado a cabo em sana não é um desafio à autoridade conservadora islamita do país, mas um pedido aos líderes tribais para que se façam ouvir e enfrentem o regime de saleh.

querem quebrar o silêncio dos homens das tribos, assumem-se como as «mulheres livres do iémen», que saíram para as ruas inspiradas por karman, que foram atacadas por saleh e que «queimam a sua makrama para que todo o mundo veja os massacres sangrentos levados a cabo pelo tirano saleh», pode ler-se nos panfletos que hoje distribuiram na rua.

de acordo com uma manifestante citada pela cnn, este mês mais de 60 mulheres foram atacadas pelas forças do governo. de acordo com ruqaiah nasser, militares forçaram a entrada nas suas habitações e chegaram mesmo a matar mulheres.

lamenta o silêncio das tribos acerca do assunto mas atesta que não vão ficar quietas: «vamos defender-nos, já que os homens não o conseguem fazer». ruqaiah deixa um recado: «as tribos devem perceber que não serão respeitadas pelas mulheres do iémen se ficarem sossegadas enquanto as suas mulheres são atacadas. as tribos que ignorarem a nossa chamada são cobardes e não têm dignidade».

catarina.palma@sol.pt