O primeiro marido

Tive ocasião de conhecer pessoalmente há alguns dias o primeiro-ministro, num evento semiformal, durante o qual trocámos meia dúzia de impressões.

falámos de optimismo, de sermos os dois contra a corrente e de vermos a vida com bons olhos. não resisti a observar discretamente o nosso pm in loco: o cabelo sempre bem penteado, a camisa sem uma ruga, o fato de óptimo corte, a gravata irrepreensível, a voz de barítono e o olhar vivo e brilhante, o sorriso franco e aberto, mas sobretudo a descontracção, a informalidade e o afecto infinito que demonstra por laura, sua mulher, gémea em simpatia e simplicidade da sua alma gémea.

apesar da presença constante e algo massacrante dos fotógrafos, o pm conversou com amigos, deu tempo de antena a conhecidos e desconhecidos, agradeceu o convite e finalmente disse: «eu agora quero ir jantar com a minha mulher», com quem aparece em público sempre muito próximo, e de mão dada, sempre que a ocasião o permite. e lá foram os dois de mão dada, sob as luzes amarelas do chiado, tal e qual como um singelo par de namorados, apenas monitorizados a pouca distância por um guarda-costas atento e discreto.

dei por mim a pensar que portugal deve ser o país com mais charme do mundo, porque só por cá é que o primeiro-ministro se passeia de mão dada com a sua cara-metade pelo centro da cidade, já noite cerrada, como se estivesse de férias numa ilha do caribe.

duvido que os turistas que povoam a esplanada da bénard e da brasileira à hora do jantar soubessem quem era aquele casal feliz e apaixonado que subia o chiado em busca de um momento de descanso e de uma boa conversa a dois. os dedos entrelaçados do pm e de laura fizeram-me lembrar os casais felizes e apaixonados que mantêm a frescura do bom entendimento ao fim de várias décadas. e o meu coração impressionável de escritora romântica derreteu-se logo ali, no coração da lisboa, ou não tivesse eu alma de costureira e não fosse uma alfacinha de gema.

adoro passear por lisboa quando estou apaixonada e adoro sentir-me apaixonada, por isso, a cidade e o coração povoam o mesmo lugar na minha imaginação.

e imaginei o nosso pm a jantar num lugar discreto e sossegado, feliz e grato por conseguir, depois de mais um dia cheio, uma dose de paz e de intimidade com a sua mulher.

acredito que, por entre a lista de qualidades que um governante deve ter, está a humanidade, essa capacidade de entender o próximo, os seus medos, desejos e necessidades, para lá da empatia intuitiva ou da simpatia inata. e foi isso mesmo que eu vi no serão em que o conheci, logo eu que sempre embirrei com a classe política.

o pm tem pela frente a mais hercúlea das tarefas, mas quando o dia chega ao fim, também tem energia para ir de mão dada jantar com a mulher. ele não é só primeiro-ministro, também é primeiro marido e marido primeiro. e, para mim, um bom marido é sempre um exemplo a considerar, seja ele fiel de um armazém de pneus usados ou o primeiro-ministro de portugal.