nos tempos conturbados que correm, podemos ler, no mesmo dia, em jornais diferentes, que os portugueses vão gastar mais dinheiro do que os alemães ou que, tirando os gregos, seremos os mais poupados neste período, outrora de grande consumo.
é espantoso como a dita sociedade civil parece afastada das grandes decisões e tudo está entregue ao poder governamental – os bancos não se atrevem a grandes avarias e os empresários de sucesso escondem-se para não serem acusados de demoníacos. vem esta conversa a propósito dos já conhecidos protestos contra o dinheiro que a câmara de lisboa supostamente irá gastar nas iluminações de natal. como se mudam os argumentos com as circunstâncias… há uns anos, a autarquia lisboeta aceitou iluminar as principais artérias – av. da liberdade, restauradores e rossio – cedendo algum espaço ao patrocinador da festa. na ocasião, caiu o carmo e a trindade por a câmara se ter vendido aos interesses capitalistas.uns anos depois, já essa modalidade é válida, além de ser a única viável, segundo a oposição camarária.
algo está mal iluminado nesta fase do campeonato. há poucos anos, os bancos davam cartas e eram donos e senhores do jogo. hoje, como estão numa situação deplorável, só reagem para defender os seus interesses, pois são incapazes de defender mais grupos de empresários. e isso faz que a dita sociedade civil esteja escondida à espera de algumas migalhas que possam sair das contas dos bancos. como estão secos, o governo vê-se obrigado a tomar as rédeas do problema. o que, como sabemos, não augura tanta coisa de bom como seria desejável. uma sociedade dependente do estado não é uma sociedade competitiva e justa.
há factores na vida das pessoas que não podem ser contabilizados em termos meramente monetários. um povo que viva exclusivamente para o trabalho ou para falta dele não terá um grande futuro.por isso será bom que a câmara consiga parceiros para iluminar as ruas da cidade – à semelhança do que se deseja para outras localidades –, permitindo dessa forma alimentar o espírito natalício. ninguém consegue viver num cenário de permanente desgraça. e nem todos os grandes empresários ficaram assim tão pobres que não possam contribuir para umas luzes de esperança. onatal merece ser vivido com cor e algum ânimo. e é assim que pensam muitos daqueles que festejam a data e nem sequer são católicos.
vitor.rainho@sol.pt