Queridas mulheres

Chega hoje às livrarias o meu primeiro romance histórico sobre a vida de Inês de Castro, Minha Querida Inês, fruto de um sonho antigo, que se transformou na minha projecção de quem pode ter sido a bela galega que enfeitiçou o infante D. Pedro e enfureceu o rei D. Afonso IV a ponto de a…

estávamos em pleno século xiv, tempo de trevas, de fome e de peste. inês, além de amante do infante, futuro rei de portugal, era fértil e tinha dois irmãos ambiciosos, decididos a persuadir o infante a fazer guerra a pedro, o cruel, então rei de castela, seu sobrinho e por isso neto do monarca português. cortar o pescoço a inês foi uma forma de cortar o mal pela raiz, afastando os castro da sua ascensão meteórica e por certo perniciosa para a segurança do reino de portugal.

gosto de imaginar uma inês inteira, com qualidades visíveis e defeitos marcados, como todos nós, e não a vítima inocente às mãos dos algozes, nem a bruxa ruça que queria roubar o reino. é certo que inês era muito bela. basta observar como foi retratada no seu túmulo em alcobaça, porventura o mais fiel, por ser o mais próximo ao tempo da sua morte. e isso faz-me pensar que a beleza é sempre um pau de dois bicos. todas as mulheres bonitas e inteligentes que conheço são polémicas. há nelas qualquer coisa de inquietante que encanta as outras mulheres e intriga os homens. ainda mais se forem fortes, corajosas e desafiadoras, como gosto de imaginar a minha querida inês.

olho para trás e apercebo-me de que os meus romances foram sempre atravessados por mulheres fortes. é fácil perceber porquê. são mulheres com personalidade vincada e algo dominadora que predominam na minha genética familiar: duas avós matriarcas, uma mãe líder, uma irmã dominadora e cinco sobrinhas cheias de genica – impossível escapar a este padrão no qual me incluo. e as mulheres que mais admiro – entre as quais se incluem teresa caeiro, política, helena sacadura cabral e estela barbot, ambas economistas, clara pracana, psicanalista, ana cáceres monteiro, jornalista, e patrícia reis, escritora – são todas de mão-cheia. e todas me inspiram e me ajudam a sentir-me mais forte. procuro nelas respostas assertivas e soluções práticas para os pequenos problemas e as grandes dúvidas. são mulheres inteiras, brilhantes, com enorme sentido de humanidade, qualidade que nem sempre existe nos homens do mesmo calibre. e há nelas uma suavidade exclusivamente feminina que as torna irresistíveis.

gosto de imaginar inês de castro como mais uma dessas grandes mulheres que atravessaram a vida e seguiram os seus sonhos, obedecendo aos seus instintos, disfarçando o medo com a vontade, de cabeça sempre erguida e sem nunca baixar os braços, como a padeira de aljubarrota, a rainha santa isabel, a marquesa de alorna, madame curie, amelia earhart, benazir bhutto, rosa lobato faria ou maria josé nogueira pinto. mulheres que fizeram muito por elas. e por todas as mulheres do mundo.