Os bares e discotecas das redondezas enchiam-se como há muito não se via e o fim-de-semana ficava marcado pelo abrigo que ofereciam os espaços fechados. Um amigo comentava a realidade determinada pela chuva, enquanto se ia divertindo com a presença pouco habitual de tantas figuras de tribos tão diferentes. Por um lado, estavam os mais chegados ao surf e que se comportam como se estivessem no bar da praia. Bebem muita cerveja, vestem-se quase todas da mesma maneira e voam com os mesmos sons. Misturados no meio da multidão, estavam aqueles que primam pelas visitas ao ginásio, ostentando uns bíceps diferentes da rapaziada das ondas. Gostam de mostrar que estão em excelente forma e tudo fazem para justificar a razão de perderem tantas horas a malhar.
No calor da noite também se notava a presença dos executivos, uma turma que gosta de beber whiskies em balão – como dizia o velho amigo Bolas, balão é para aguardentes – e que procura meter conversa com alguma altivez. Nota-se que nem sempre são bem recebidos, mas pouco se importam. Quando recebem uma nega, mudam de esquina e voltam ao ataque. Um amigo meu riu-se bastante quando um deles se aproximou e lhe desferiu uma série de impropérios que visavam realçar o aspecto físico que achavam menos digno para merecer a atenção de algumas das mulheres presentes: «Só se atiram pedras a árvores com frutos», dizia o amigo enquanto se refrescava com outra bebida, indiferente ao tal Adónis. Eis que chega uma amiga que não queria acreditar no insólito diálogo. «Mas há mesmo quem tenha de denegrir a concorrência para ver se tem mais sucesso?», questionava. «É normal as mulheres dizerem mal umas das outras, mas não se atrevem a ir ter com quem não conhecem para realçar este ou aquele aspecto físico.Os homens são mesmo mais inseguros», acrescentava. «Não sabes que até fazem comentários sobre a idade?», replicava o amigo. Confesso que me fartei de rir com as diferentes histórias e com as diferentes tribos. E é óptimo sair com um sorriso nos lábios.
vitor.rainho@sol.pt