Viva Cristiano Ronaldo

Foi uma noite memorável para os amantes da bola. Portugal conseguiu, à bela maneira lusitana, apurar-se para a fase final do Campeonato Europeu no último jogo.

numa altura em que o país está mergulhado numa crise generalizada e em que as acções de alguns bancos valem menos do que uma gorjeta para um arrumador de carros, a vitória de portugal sobre a bósnia, por 6-2, trouxe algum ânimo ao país. durante uns dias, o efeito anti-depressivo irá funcionar e as conversas nos cafés e nos empregos versarão sobre a façanha de cristiano ronaldo e sus muchachos. mas o jogo, que teve momentos de alguma ansiedade, ilustra bem a mentalidade lusitana. o melhor jogador nacional, bem como outros craques, eram sistematicamente colocados em causa, mas tudo se alterou com a vitória esmagadora. é certo que o estado de graça só funcionará até ao próximo percalço, já que dizer mal é parte integrante da nossa cultura e fazer elogios é algo tão pouco natural que se nota mesmo nas relações familiares e de amizade.

serão poucos os países que se podem gabar de ter cinco ou seis jogadores de classe mundial. nós temo-los, mas gostamos de nos esquecer. também não deixa de ser verdade que, por vezes, a mesquinhez nacional se reflecte no comportamento dos craques lusitanos. acham que são vítimas de ingratidão e comportam-se como virgens ofendidas. acredito, contudo, que se aqueles que têm por missão liderar um grupo de rapazes que passou dos bairros pobres para as zonas mais chiques da europa souberem conduzi-los e chamá-los à atenção, tudo será diferente. paulo bento, que pegou na selecção quando esta estava praticamente condenada ao insucesso, não teve medo de ir afastando jogadores que não sabiam comportar-se em grupo. pode ter cometido alguns erros de comunicação para o exterior sobre as razões de prescindir de um ou outro jogador.mas do que não há dúvidas é que na estrutura da direcção federativa falta quem seja capaz de antecipar problemas. à semelhança de outros sectores da sociedade – veja-se o que se tem passado na política nos últimos anos –, portugal precisa de encorajar as melhores mentes para os cargos importantes. como é possível, por exemplo, haver tantos jogadores que não tenham ninguém que lhes explique que o momento alto de uma carreira é a fase final dum campeonato da europa ou do mundo? e que não é correcto questionar por que razão ficam no banco de suplentes em detrimento de outros colegas? se assim fosse, só podiam ser convocados 11 jogadores…

cristiano ronaldo pode ter muitos tiques de vedeta, mas nota-se que tem aprendido com os erros. se tiver bons conselheiros, chegará ainda mais longe. afinal, um título de campeão europeu ou mundial dar-lhe-á outro estatuto e outro prazer.

vitor.rainho@sol.pt