no âmbito do programa de ajuda da troika foi criada uma linha de garantias pública, no valor de 35 mil milhões, para os bancos utilizarem nas emissões de dívida, tendo sido ainda utilizada apenas em curta parte: restam perto de 29 mil milhões.
os pedidos de autorização das instituições, segundo informações recolhidas junto de várias fontes, já estão no banco de portugal (bdp), e as operações de emissão de dívida, no valor de cerca de dois mil milhões euros cada, devem ocorrer este ano.
«foi a solução encontrada pelos bancos para obter mais liquidez, numa altura em que os mercados continuam fechados para portugal e os depósitos, apesar de estarem a crescer, não chegam para dar resposta à procura de crédito», diz um banqueiro ao sol.
para avançarem com o uso de mais garantias do estado para estas emissões, os bancos precisaram do apoio do governo para desbloquearem o processo junto da troika. para convencer o executivo a apoiar o reforço da exposição ao bce , os banqueiros utilizaram a urgência de consolidação orçamental como trunfo, argumentando ainda que esta seria das poucas formas que restam para continuarem a conseguir dar resposta aos pedidos de financiamento do governo para as empresas públicas e para continuarem a dar crédito a privados, sobretudo exportadores
após negociações entre as partes, o apelo foi reiterado na visita que os responsáveis da missão da troika fizeram, nas últimas duas semanas, a lisboa. isto porque, «assim vamos aumentar a exposição do sistema financeiro junto do bce e o entendimento de base do organismo é que aconteça o contrário», esclarece outro alto responsável da banca lusa.
no fim de outubro, os bancos residentes em portugal tinham um total de 45,5 mil milhões de euros em financiamento junto do bce. sem contar com as garantias do estado, tinham recentemente apenas 28 mil milhões de euros de colaterais elegíveis disponíveis para desconto no bce, segundo o fundo monetário internacional (fmi). o valor de colaterais junto do bce não é estanque, podendo variar e até aumentar à medida que forem vencendo os empréstimos e consoante a necessidade de os refinanciar.
nesta visita, a troika voltou a salientar que a desalavancagem do sistema financeiro é «um ponto crucial no programa de ajustamento». e as autoridades internacionais sabem que «terá de ser feita de forma ordeira, para que os bancos continuem a conseguir dar crédito à economia, sobretudo às empresas privadas», disse poul thomsen do fmi
o responsável revelou que «as autoridades voltaram a alertar para a falta de crédito e que as empresas se queixam de não estarem a conseguir ter fundo de maneio e investir, mas os números ainda não o evidenciam». neste momento, acrescenta, «consideramos que ainda não há em portugal um problema de oferta de crédito face à procura, mas esta é uma questão a que vamos estar sempre particularmente atentos nos processos de monitorização».