simples: juntamente com três outros que tiveram o bom senso e a honradez de se demitir a tempo, foram considerados pelo ministro relvas como sendo os nomes mais indicados para definir um novo ‘conceito de serviço público da comunicação social’. foram estes sete indivíduos que, do alto da sua sapiência na matéria, apresentaram esta semana um plano revolucionário ao país, que, a ser seguido, iria desmantelar a rtp e constituir um modelo único de serviço público de televisão na europa e no mundo.
o relatório , como era inevitável, é um documento escrito sobre o joelho, um arrazoado de invectivas e de considerações tão pedantes como confusas, que se propõem sustentar um conjunto de propostas avulsas, por vezes contraditórias, sem rigor nem coerência conceptual. quem ler o texto, percebe que ele é o prolongamento das ‘teses’ de eduardo cintra torres, o ‘especialista do grupo’, radicalizadas pelo fanatismo ideológico do ex-director do público, josé manuel fernandes. um panfleto, em lugar de um estudo, como se devia esperar de um documento desta importância, é o preço fatal da demagogia, da leviandade e da precipitação com que o ministro relvas tem conduzido um dossier desta importância.
vejamos por partes: 1. a composição do grupo de trabalho (gt) desacreditava-o à partida e as deserções de felisbela lopes, sassfield cabral e joão amaral, ajudaram a descredibilizá-lo. 2. o prazo e as condições de trabalho dum grupo em part-time e pro bono não eram susceptíveis de produzir qualquer documento sério, assente em avaliações, estudos e projecções com um módico de rigor académico e de fundamentação. 3. o condicionamento que, à partida, o ministro relvas havia dado ao gt, ao anunciar previamente que o governo iria privatizar um dos canais da rtp, agravado pela ordem dada entretanto à administração da rtp, para que lhe fizesse, à pressa, um plano de empobrecimento da empresa.
o resultado é o preço fatal do amadorismo, da precipitação e do improviso: extinção do regulador; redução radical da informação; serviço público num único canal, entendido como mero difusor de ‘conteúdos’; confusão (deliberada?) entre contratualização dos programas aos canais comerciais e a produtores independentes; fecho dos canais de informação e memória; redução de custos, mas fim da publicidade e aumento da ficção histórica; fusão da rtp internacional e áfrica e governamentalização do novo canal internacional, que deveria ser entregue ao mne! será que alguém se sente capaz de levar a sério estes delírios?
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