Nas Bocas do Mundo – Silvio Berlusconi

Excluídos dezenas de jornais que controla, conseguiu um raro momento de unanimismo na imprensa: na hora da despedida, da esquerda à direita do espectro mediático, as farpas foram estocadas no septuagenário milanês.

e como discordar? a herança de silvio berlusconi é tremenda. a itália é hoje um país sem moral. o chico-espertismo do magnata que entrou na política como um liberal reformista corroeu a autoridade do estado sem que reforma alguma tenha sido realizada. o que talvez não seja alheio ao facto de na última década o crescimento da economia ter ficado atrás de todo o mundo, excepto do haiti e do zimbabué. as assimetrias entre norte e sul de itália não se esbateram;no plano social, um número anormal de adultos não consegue sair de casa dos pais; as mulheres são um adorno: o país figura nos piores lugares no que respeita à igualdade de género.

silvio berlusconi teve tudo para ficar na história pelas melhores razões. conseguiu dar estabilidade aos governos e dispôs de maiorias absolutas para governar e reformar. preferiu antes governar-se, ampliando os seus negócios e poder (inclusive com outros governantes como putin ou kadhafi), misturando televisão, futebol e política a uma escala inaudita, ao mesmo tempo que os seus partidários criaram leis à medida para que pudesse continuar a dominar os media e a escapar-se como areia por entre os dedos dos juízes e procuradores dos mais variados processos.

os italianos admiraram por longos anos o seu sorriso plástico, as suas piadas de gosto duvidoso, a sua boçalidade embrulhada em roupagens de self-made-man. acabou por ser a crise do euro a derrubar il cavaliere do seu cavalo de papel. resta saber se o berlusconismo também foi abatido.

césar avó