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porque o teatro não é uma arte «sobre credibilidade», mas sim «sobre partilhar ideias e propor personagens» (mesmo que as menos credíveis sejam as mais interessantes), esta é a história de uma menina de nove anos, demasiado alta para a sua idade, «recordista mundial de consumo do dicionário», pelo menos «lá em casa», e a quem «a mulher que era sua mãe» chamava de «girafa».
a menina, interpretada pela adulta carla galvão, embarca numa aventura ao estilo alice no país das maravilhas por lisboa, depois de o pai, desempregado (miguel borges), não ter conseguido pagar a mensalidade do discovery channel, canal essencial para o trabalho de escola que está a fazer sobre girafas. a acompanhá-la está o seu urso de peluche (tonán quito), amigo imaginário, que solta palavrões de rajada, e representa, ao mesmo tempo, «o lado negro da criança e aquelas pessoas que estão sempre do contra e têm o discurso ‘eles são todos iguais’».
nesta expedição pela capital, a menina, cujo nome nunca é revelado, cruza-se com várias personagens como um velho e um pantera negra (ambos interpretados por pedro gil) e o dramaturgo russo tchekhov (novamente miguel borges), até chegar ao seu destino final: o palácio de são bento, onde descobre pedro passos coelho (pedro gil), a única pessoa que ela pensa que a pode ajudar a recuperar o discovery, channel, supostamente a chave da sua felicidade.
para tiago_rodrigues, esta infância pré-adolescente, «dos 9, 10, 11 anos, é um bom momento para pensar sobre o mundo», porque é nesta idade que se começa «a construí-lo e a entender as coisas de determinada maneira». por isso, além da infância, tristeza e alegria na vida das girafas aborda questões actuais como a crise económica, o desemprego e a falta de dinheiro.
«como tenho uma filha de dez anos, questiono-me muitas vezes como é que as crianças estão a viver a crise. como é que elas entendem este ruído de fundo constante que traz palavrões como recessão ou austeridade», diz o encenador, sublinhando: «é normal um pai desligar a televisão se estiver a passar uma imagem violenta mas, se calhar, também devia desligar quando o ministro das finanças aparece a comunicar que vai cortar salários, subsídios e comparticipações».