A inocência de Duarte Lima

É comum dizer-se que o povo português, ao contrário do italiano e afins, não permite que a máfia se instale no país. Como somos um país de alcoviteiras, é difícil alguém impor a sua força sem que seja denunciado.

digamos que é uma vantagem da nossa cultura. que o digam os homens da eta que tentaram várias vezes fazer do nosso território uma base de apoio às suas acções.

se no que diz respeito a organizações estrangeiras com fins pouco claros parece mais ou menos evidente que portugal não é um país aconselhável, o mesmo não se pode dizer em relação à politiquice nacional. as queixas da existência de forças de bloqueio são antigas e não vale a pena estar a recordar, por exemplo, o período em que cavaco silva foi primeiro-ministro. mas não deixa de ser curioso os movimentos que se criam em defesa de determinadas matérias sempre que as mesmas são polémicas. foi o caso casa pia, quando se dizia que havia jogadas políticas para denegrir figuras gratas do ps, foi o caso freeport, foi o caso face oculta ou agora o caso duarte lima. também é insólito que não se tenha dito o mesmo em relação ao caso bpn, antes de duarte lima entrar em jogo, e ao caso do banco privado português.esses foram dois temas pacíficos. havia e há uns malandros que são todos da mesma cor política e, portanto, não há direito a cabalas. são muitos casos com defesas distintas.

o que é verdadeiramente surpreendente é ver tantas figuras a defender duarte lima no que às acusações de homicídio diz respeito. que não há provas, dizem. tudo bem. o caso não foi a julgamento, mas já há uma acusação. será que as autoridades judiciais brasileiras fazem parte de uma organização terrorista que quer prejudicar tão ilustre figura? tendo tantos intervenientes a pronunciar-se sobre o caso, estarão todos unidos para prejudicar duarte lima?

por outro lado, se o causídico português está inocente, por que razão não se apresenta às autoridades brasileiras para defender o seu bom nome? repito: será que a justiça brasileira é dominada por alguma força oculta, tipo maçonaria, que quer prejudicá-lo? não me parece. sei que até prova em contrário todos somos inocentes. mas perante uma acusação tão grave não seria expectável que se fosse defender?

se calhar não, atendendo a todos aqueles que o têm defendido publicamente alegando que não há provas concretas contra si. acho esta tese um verdadeiro caso de estudo. ou então altos valores se levantam em defesa de tão proeminente figura. mas se alguém não é culpado até prova em contrário, também não é na praça pública que alguém deverá provar a sua inocência. é elementar, meus caros.

vitor.rainho@sol.pt