É o primeiro acto desta inédita dança de cadeiras que terá o segundo capítulo em Março, quando Vladimir Putin voltar ao Kremlin (de onde nunca saiu de facto) após as presidenciais. Só então, o delfim Medvedev deverá assumir a liderança do Governo.
Destas eleições, rezam as crónicas de Moscovo, ressalta uma sensação de desgaste da dupla que se prepara para mais uma dúzia de anos no poder (em 2008, uma alteração na lei estendeu o mandato presidencial de quatro para seis anos). O regime não conseguiu abafar a onda de contestação em vários e desencontrados pontos da Rússia – o mais conhecido foi a valente vaia a Putin no final de um combate de artes marciais. Nada, porém, que o rolo compressor chamadoRússia Unida, um partido que se confunde com o Estado e com tácticas eleitorais que Berlusconi não desdenharia, não ultrapasse. E com maioria absoluta.
Dmitri Medvedev chegou à Presidência no mesmo ano que Barack Obama e, como ele, trouxe um discurso que cheirava a mudança, embrulhado em palavras como ‘liberdade’, ‘justiça’ e ‘modernização’. Mas no balanço do mandato não se vislumbra nada mais do que propaganda. A dias das eleições, numa campanha em que funcionários do Estado foram pressionados a mostrar o voto através de fotografia do telemóvel, Medvedev inaugurou um radar antimísseis no enclave báltico de Kalininegrado, prometeu apoiar os sérvios do Kosovo, não vê motivos para deixar de vendar armas à Síria e ameaçou punir os responsáveis pelo fracasso da desaparecida sonda espacial Phobos-Grunt. Para modernizador, estamos conversados.