o velho continente representava a civilização, o bem-estar, os direitos humanos e até o luxo. em filmes ou em séries via-se personagens a falar, por exemplo, de paris como se fosse o supra-sumo da existência. os habitantes europeus tinham direito a um mês de férias pagas, em muitos países a habitação era praticamente gratuita, o acesso aos cuidados médicos era garantido, os desempregados usufruíam de um subsídio, os reformados das nações do norte podiam viver tranquilamente nos países do sul e não faltavam sítios e lugares onde se podia gastar todo o dinheiro do mundo. a liberdade era um bem adquirido e cultivava-se até o ‘é proibido proibir’. com a riqueza acumulada, aquando do apogeu da união europeia, destruía-se comida para não baixar os preços das matérias-primas, subsidiava-se gente para não produzir e não faltavam bancos que emprestavam dinheiro para tudo e mais alguma coisa.
nesse quadro, e falamos dos países mais desenvolvidos, a geração do maio de 68, então já instalada no poder, começou a produzir vasta legislação sobre tudo e sobre nada. aos costumes disseram nada e, aos poucos, foi-se instalando uma cultura onde o disparate impera. um dos países que tem estado longe dos holofotes da crise e que foi em tempos um dos mais vanguardistas no que aos costumes diz respeito, a holanda, passou a encabeçar o pelotão das contradições. é possível fumar um charro numa coffee shop, desde que não se misture tabaco, é possível realizarem-se raves em locais determinados, mas os habitantes de um qualquer prédio podem ser multados se incomodarem os vizinhos. os alunos erasmus podem não ter muito dinheiro para os transportes, mas são multados se as bicicletas em que se deslocam não tiverem luzes. as verbas destinadas ao supermercado podem ser escassas, mas se se enganarem a deitarem o lixo no contentor, um diligente agente policial tratará de levar a multa. a reciclagem é obrigatória.
não serão estas leis um belo retrato de como a europa está? velha e cheia de tiques manientos, a empobrecer a cada dia que passa? poder-se-á dizer que a crise só afecta os países menos desenvolvidos. mas a itália não fazia parte dos oito mais ricos do mundo? e quem não se lembra das leis ridículas impostas em portugal, em que as pessoas se debatem com a falta de dinheiro e depois são castigadas com multas parvas?
as novas gerações, que têm a obrigação de lutar por uma vida mais justa, devem perceber que a solução não passa por entrar no reino da utopia ou promover uma sociedade asséptica. e agora chegou o momento certo para agirem.
vitor.rainho@sol.pt