Nas Bocas do Mundo – Elsa Fornero

O novo Governo italiano liderado por Mario Monti foi criticado por ter nascido de uma espécie de golpe imposto pelos mercados.

Uma situação antidemocrática em que os políticos saíram de cena para entrarem os tecnocratas, faces visíveis de um poder oculto, condenaram alguns. Esqueceram-se ou relativizaram os burlescos anos de Berlusconi e a demissão dos restantes partidos políticos que empurraram o país para o entorpecimento. Neste contexto, a presença de três mulheres de currículo inatacável em outras tantas pastas chave da governação, no lugar das garotas de calendário, representa um avanço digno de registo. Se nos lembrarmos de que a Itália ocupa uma posição vergonhosa (74.º em 135 países analisados) no último relatório sobre desigualdade de géneros, mais relevo ganha.

Catedrática de Economia Política, Elsa Fornero tem as pastas do Trabalho, Políticas Sociais e Igualdade e antes de entrar em funções ministeriais prestava assessoria sobre pensões ao próprio Ministério do Trabalho. No domingo, ao anunciar as medidas de austeridade que incidem nos pensionistas, a emoção foi mais forte e caiu em pranto. Mas não a sua dignidade. Mostrou que, ao contrário das críticas ouvidas na transição Berlusconi-Monti, os tecnocratas não vêem só números. Têm emoções – e ao contrário de muito político de plástico, revelam-nas.