sempre que se aproxima a escolha dos candidatos dos dois principais partidos à presidência, assiste-se a um lavar de roupa suja que deve envolver polícias secretas, detectives privados, jornalistas, religiosos e demais profissões confessionárias. para quem assiste de fora, há sempre episódios mais ou menos previsíveis, mas que não deixam de ter a sua graça. de um lado estão, supostamente, aqueles que defendem a moral e os bons costumes, do outro estão os ‘vendidos’ aos prazeres da carne e do espírito. os primeiros, quando surgem, fazem quase sempre lembrar pastores de alguma igreja onde praticamente tudo é condenável, deixando aos seus fiéis o sentimento de culpa por se despirem para tomar banho. agarram muitas vezes na bíblia e prometem interpretá-la de forma quase radical. surgem em público com a mulher, filhos e animais de estimação e acusam os outros de serem impuros. claro está que assim que aparecem com este estatuto de impolutos, logo uma legião de ‘vasculhadores’ irá acabar por descobrir alguma relação extra-conjugal.
a propósito desta ‘fatalidade’, recordamos nesta edição alguns dos casos mais emblemáticos que animaram as primárias dos republicanos e dos democratas. e não se compreende como é possível o sexo ter tanta importância nos destinos da principal nação do mundo. sendo os estados unidos da américa um país novo, onde tantas revoluções de costumes tiveram lugar, onde se elogia tanto a livre iniciativa, como é possível os eleitores estarem tão preocupados com o que se passa debaixo dos lençóis dos candidatos? no caso dos republicanos até se entende. se têm a mania que são os grandes defensores da moral e do bom comportamento familiar, é natural que os seus devaneios sejam denunciados. o que me faz confusão é como ainda aparecem com ar de santos, quando sabem que são tão pecadores como os outros.ou ainda mais: os outros não dizem que querem ir para o céu…
mas o que estará por detrás de todas as denúncias? serão os outros candidatos do mesmo partido que investem forte? serão os serviços secretos ao serviço do partido que está no poder? serão amantes magoada(o)s que procuram visibilidade ou decidem denunciar a sua infelicidade escondida durante tanto tempo?
independentemente da cretinice alastrar também aos democratas, a denúncia das vidas privadas acaba por ser um exercício democrático. na europa, e bem, esses casos passam ao largo da maioria da comunicação social. mas há dezenas de países onde tal não seria possível, pois a democracia não mora lá.
vitor.rainho@sol.pt