Ainda as eleições presidenciais nos EUA não tinham atingido o mediatismo global e já o guitarrista e compositor (falecido em 1993) defendia que a escolha do inquilino da Casa Branca devia ser realizada pelos cidadãos de todo o mundo, uma vez que as políticas norte-americanas afectam os quatro cantos do mundo.
O mesmo se devia aplicar na Europa. A crise que assentou arraiais não se deve apenas aos excessos de Governos irresponsáveis. Nem ao encurralamento dos Estados outrora anafados e agora submetidos a uma espécie de programa de TV humilhante em que são obrigados a perder banhas e músculo por parte do tal 1% que o movimento Ocupa Wall Street denuncia no mote ‘Nós somos os 99%’. A crise resulta também, como é voz corrente, da falta de lideranças à altura dos desafios. E de legitimidade democrática, acrescente-se.
O eixo franco-alemão (mais alemão que franco, bem entendido), com o petit nom Merkozy, não foi mandatado pelos europeus – nem pelos seus povos – para impor a sua vontade à maioria; o presidente do Conselho Europeu e o presidente da Comissão Europeia não são eleitos; os únicos representantes escolhidos pelo voto, os deputados europeus, são ignorados no dia de eleições (e nos restantes dias); e os chefes de Governo como em Itália e na Grécia são já substituídos por economistas sem passagem pela arrelia e enfado resultante da escolha através do voto universal.
Na semana em que o Parlamento Europeu agraciou elementos da Primavera Árabe e que propôs novas eleições na Rússia, e em que a Time elege a figura do manifestante a personalidade do ano, seria bom de ver as instâncias europeias proporem, entre tanto regulamento, directiva, reunião e cimeira, uma saída para uma situação que corrói Bruxelas nas suas fundações.