Até já!

Em 2012 o SOL brilhará sobre o azeite, o vinho e outras bebidas de bom espírito com novas nuances e criativos suportes.

após um longo período de contacto com o leitor, através desta coluna semanal, volto à universidade, preparando a vindima de mais um grau académico e o empolgante contacto com novos métodos e técnicas que fazem da enologia uma ciência viva e um suporte fiável para a elaboração da mais humana das bebidas: o vinho.

quando tomei a decisão de me transferir da engenharia civil para a viticultura e enologia, não esperava ser tão bem acolhido e mimado pela fileira do vinho como tenho vindo a ser. serei para sempre devedor a centenas de profissionais – produtores, enólogos, técnicos, comerciais, outros escritores e enófilos – que me dedicam algum tempo e muito carinho. a retribuição só pode ser com disponibilidade para fazer mais e melhor. creio que a minha vida profissional é um exemplo de formação contínua e quero deixar, sempre, uma porta aberta para a formação e educação de novos públicos e profissionais do vinho.

apesar de se tratar de um ‘até já’, deixo sabores de agradecimento para os milhares de leitores e para os meus colegas da redacção. destaco aquele abraço para os leitores de angola com quem aprendi a cultura de outro hemisfério e senti a partilha de um amor, à distância, pelos maravilhosos néctares europeus.

apesar de ser o testemunho líquido da história da civilização europeia ocidental, hoje em dia, mantemos todas as funções culturais do vinho, acentuando a nova dimensão medicinal benigna, quando ingerido com moderação, e reconhecendo-o como um produto natural, aculturado ao capitalismo e à economia de mercado. a intensa representação social do vinho transporta-o para todos os eventos da nossa vida privada. no mundo lusófono, não se concebe a celebração de um baptismo, de um casamento ou de um aniversário sem a festividade que o vinho transmite.

afinal, a vinha tem um ciclo vegetativo da mesma dimensão da gravidez da mulher. tal como nós o vinho tem diversos humores durante a sua vida: um dia apresenta-se vivo e expressivo; noutro momento revela-se fechado e desinteressante. tem corpo de percepção física e espírito etéreo, mas personalizado e inebriante. e envelhece irremediavelmente, assistindo ao surgimento de novas colheitas, tal como nós.

anibal.coutinho@sol.pt