mas afinal o que é o amor romântico? helen fisher, uma das mais reputadas antropólogas da actualidade, defende que o amor romântico está profundamente entrelaçado com dois outros impulsos de acasalamento: a luxúria – a ânsia pela satisfação sexual – e a ligação – as sensações de calma, de segurança e de união com um parceiro a longo prazo. cada um destes impulsos está associado a substâncias neuroquímicas diferentes: o primeiro à testosterona e ao segundo à oxitocina e à vasopressina. o amor romântico está ligado à dopamina e à serotonina, conhecida pela hormona do bem estar. queremos cultivar o amor romântico porque ele nos faz sentir bem. e quando pensamos que é o nosso coração que manda, é bom lembrarmo-nos que tudo isto se passa no nosso cérebro e que tais substâncias ‘explodem’ no nosso corpo, tornando-se por isso difíceis de controlar.
não é preciso ter formação em antropologia ou em neurologia para conhecer os mecanismos do amor romântico. de uma forma intuitiva todos sabemos o que é, porque já todos passámos por isso. eu associo ao amor romântico a um estado de consciência no qual reina a inocência; aquele estado de pureza em que damos tudo porque esperamos tudo e acreditamos que aquele amor é tudo nas nossas vidas. cada vez que uma pessoa se apaixona regressa a esse estado de graça primordial que transforma o mundo num lugar novo e nos empresta uma sensação de plenitude. e, antes que a ligação se desenvolva, a luxúria tem um papel fundamental na criação de laços.
no entanto é comum a distinção em quase todas as culturas entre o estado de paixão amorosa e o desejo de satisfação de apetites sexuais. luxúria e amor romântico não são a mesma coisa, embora tantas vezes nos apeteça confundi-los e fundi-los na mesma situação e em relação à mesma pessoa. o desejo sexual puro e duro extingue-se pouco depois do acto em si, enquanto a paixão amorosa perdura no tempo como um relógio de um quadro de dali, escorrendo e ansiando por mais e mais.
pablo neruda chamou ao impulso sexual a sede eterna. sentimos esta sede quando nos envolvemos sentimentalmente porque a dopamina, o licor do enamoramento, pode estimular a libertação de testosterona, a hormona por excelência do desejo sexual. ou seja, voltando às minhas fórmulas intuitivas, a mulher deseja aquilo que ama e o homem ama aquilo que deseja?
talvez sim no primeiro caso, mas nem sempre no segundo. o amor romântico pode desencadear o desejo sexual, mas o desejo de satisfação sexual nem sempre desencadeia sentimentos de amor romântico. a luxúria nem sempre desperta a paixão amorosa. as injecções de testosterona estimulam os impulsos sexuais mas não induzem à paixão.
ou seja, embora isso possa acontecer, a química do desejo, da paixão e do amor são diferentes e provocam em nós estados distintos. citando fisher : «é perigoso copularmos com alguém com quem não nos queiramos envolver. embora tencionemos ter um relação casual, podemos enamorar-nos».