portugal era um país atrasado e não restava outra hipótese à mão-de-obra desqualificada se não procurar novos rumos. por isso, paris e arredores encheram-se de portugueses; o mesmo acontecendo com o brasil, venezuela, eua e canadá. outros seguiram para as antigas colónias, onde procuraram refazer as suas vidas. a seguir ao 25 de abril de 1974 outro tipo de emigrantes optou por abandonar portugal. revoltados com a instabilidade política e com as perseguições de que foram alvo, decidiram rumar a outras paragens. só em meados dos anos 80, quando os governantes lhes acenaram com outras condições e prometendo-lhes um modelo menos estatizado em que a sociedade civil seria a alavanca do país, é que começaram a regressar a portugal.
alguns anos depois, com o boom das bolsas e os milhões que chegavam da comunidade europeia, o país começou a precisar de importar mão-de-obra para as obras anunciadas. auto-estradas, hospitais, pontes e expo absorviam milhares de trabalhadores. de um momento para o outro, o sotaque do leste invadiu as ruas portuguesas, apimentadas com o sabor brasileiro. à medida que as condições foram piorando em portugal e, no sentido inverso, melhorando nos países desses imigrantes, começou a dar-se a debandada desses novos moradores. ninguém pode deixar de reconhecer que o país, em muitos casos, ganhou com essas trocas de experiências. os dentistas brasileiros conquistaram o seu espaço, independentemente de algumas fraudes, o ensino português ganhou com a disciplina dos novos alunos do leste, habituados a outro rigor e a outra exigência.
actualmente muito se discute sobre as palavras do primeiro-ministro que terá aconselhado algumas classes profissionais a emigrar. nunca ouvi a frase e até acredito que a forma não tenha sido a mais correcta.mas parece-me óbvio que uma das soluções para sair da crise passa por abraçar experiências no exterior. quando recentemente estive em moçambique, o embaixador português dava conta que todas as semanas chegam a maputo jovens licenciados que procuram uma vida melhor. não acredito que possam ficar por lá se não forem uma mais-valia para o país de acolhimento. sendo nós um povo de emigrantes é, no mínimo, estranho tanto alarido. penso é que o governo português precisa urgentemente de investir nesses países por forma a que os tais professores possam divulgar a língua portuguesa e não deixem que espanhóis, americanos ou franceses ocupem um espaço que, pela história, é reservado à língua portuguesa. o futuro existe. tanto para quem vai para lá, como para quem vem para cá.
vitor.rainho@sol.pt