os maquinistas da cp que fizeram greve no natal foram longe de mais?
às vezes, os governos usam as greves impopulares para pôr em causa direitos. estamos preocupados sobretudo com a utilização dessa greve para pôr em causa este mesmo direito.
o protesto foi desproporcionado?
acho que as datas escolhidas não foram as melhores, afectaram mais a população do que a empresa. mas também há que ver se é normal uma empresa levantar 200 processos disciplinares [o motivo para convocar a greve].
admite que o reequilíbrio financeiro nas empresas de transportes passe pela redução de trabalhadores?
sim. mas de preferência optando por rescisões amigáveis e em diálogo com os sindicatos. a culpa do estado das empresas é, sobretudo, da má gestão, não dos trabalhadores
a mensagem de ano novo do presidente da república veio dar apoio à ugt e aos trabalhadores?
foi positiva em relação às posições da ugt, nomeadamente que há que procurar soluções para a crise, para o crescimento do emprego e competitividade e, sobretudo, em relação à coesão social e ao diálogo político. mas tem uma lacuna relativamente ao oe: estávamos à espera que, ao promulgá-lo, o pr enviasse uma mensagem à assembleia da república ou fizesse uma referência à insensibilidade social e à discrepância fiscal.
entendeu a mensagem como uma crítica ao governo sobre a aprovação da meia-hora extra de trabalho?
o pr sabe que a posição da ugt é de total intransigência nessa matéria. a meia-hora tem uma consequência mínima em termos de produtividade e serve sobretudo para as empresas aumentarem lucros à custa dos despedimentos, que podem aumentar brutalmente. quando o pr faz um apelo ao diálogo social, penso que o está a fazer em relação à intransigência do governo, que negoceia com a troika matérias que deveria negociar previamente em portugal.
se a meia-hora avançar mesmo, até onde está a ugt disposta a ir? outra greve geral com a cgtp?
é uma hipótese, mas não é o que prevemos no imediato. o que prevemos é uma grande conflitualidade social nas empresas porque a decisão será tomada caso a caso. aliás, apontam-se os grandes interessados na meia-hora: as grandes superfícies, por exemplo, onde haverá a não renovação de contratos a prazo, na ordem dos cinco a seis mil. vamos opor-nos.
quando carvalho da silva deixou a reunião da concertação social por causa da meia-hora extra , ponderou fazer o mesmo?
não.
porquê?
foi uma encenação que estava predefinida. o que dizemos é que a concertação e o diálogo social são direitos constitucionais e da lei que exigimos que sejam cumpridos. mas uma coisa é haver diálogo e concertação social, outra é haver acordos. com a meia-hora não há acordo.
neste momento, há concertação social ou apenas uma formalidade?
o ministro da economia, que lidera a concertação social, não sabe o que isso é. álvaro santos pereira ouve as posições das organizações sindicais e patronais e depois decide o que muito bem lhe apetece. o espírito da concertação social é o governo ouvir os parceiros e depois procurar compromisso. o ministro ainda não entendeu o que significa negociar.
santos pereira tem sido criticado até pelos patrões. antónio saraiva disse que ele não tem consistência. faz sentido manter um ministro com este perfil no início de um ano como este?
isso tem que perguntar ao primeiro-ministro. aliás, a melhor maneira de manter um ministro no governo é ataca-lo e pedir a sua demissão e nós não caímos nessa tentação!
têm sido discutidas mais questões, como a redução dos dias de férias e das indemnizações, o aumento da facilidade em despedir… estes são pontos mais pacíficos que vão acabar por passar?
depende de estarmos em clima de acordo e haver cedências ou não.
se o governo ceder na meia-hora estão disponíveis para ceder em tudo o resto?
não. estamos disponíveis para procurar um acordo que seja minimamente equilibrado, embora entendendo que neste momento as matérias em cima da mesa são negativas para os trabalhadores. terá que ser um acordo defensivo, que possamos dizer que virou a actual política de austeridade do governo para uma politica de crescimento e emprego. para além da meia-hora, também não estamos disponíveis para negociar quaisquer mecanismos que enfraqueçam o movimento sindical.
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