TDT: Quatro canais gratuitos em vez de 50

Na quinta-feira as populações de 25 concelhos dos distritos de Lisboa, Setúbal e Beja deixaram de ter televisão analógica. Foi a primeira fase do início da Televisão Digital Terrestre (TDT), que se vai estender a todo o território nacional até 26 de Abril.

«acabámos de dar um passo muito importante em termos tecnológicos», disse o ministro miguel relvas, que assistiu no castelo de palmela ao ‘apagão’, para o qual muitos portugueses só agora se começaram a preparar. segundo a anacom (autoridade nacional de comunicações), «só nas últimas semanas centenas de milhares de famílias terão feito a migração».

inicialmente, estava previsto que deixasse de haver televisão analógica em todo o litoral esta semana, mas o atraso na compra dos equipamentos necessários para receber o sinal digital levou a anacom a desdobrar a primeira fase de ‘apagamento’, «para garantir uma melhor operacionalização e monitorização» do processo.

1. quais as oportunidades perdidas da tdt?

a tdt abre espaço para quase 50 novos canais. mas os portugueses não vão beneficiar disso quando acabar a tv analógica. tudo porque o governo ainda não decidiu o que fazer com as frequências criadas pela nova tecnologia.

só no multiplexer a – no qual estão as frequências da rtp, sic e tvi – vai haver espaço para quatro ou cinco novos canais.

a essas frequências juntam-se mais cinco multiplexers (cada um dos quais com oito ou nove canais) que foram atribuídos por concurso público à pt, mas que acabaram por ser ‘devolvidos’ ao estado, uma vez que a operadora desistiu de ficar com eles. neste momento, o espaço que está livre está nas mãos das operadoras de telemóvel, para a tecnologia 4g – tendo o estado ganho 270 milhões de euros com a operação.

ao sol, o gabinete do ministro miguel relvas recusou adiantar que planos tem o governo para estas frequências.

2. o que ganha portugal com a tdt?

segundo a anacom, as vantagens são a melhoria da qualidade de som e imagem e as novas funcionalidades que até aqui apenas estavam disponíveis para quem tinha televisão paga: guia electrónico de programação, gravação de programas e pausa de imagem, consoante as características do descodificador que se compre.

quem estava em zonas do interior onde não recebia bem o sinal dos quatro canais generalistas, vai poder passar a vê-los em óptimas condições. o problema é que, nestas regiões, muitos são os que estão a orientar as antenas para espanha, optando por deixar de ver a televisão portuguesa.

3. qual a situação no resto da europa?

a recomendação de passar para a tdt partiu da união europeia, mas portugal é dos últimos estados-membros – ao lado do reino unido, da itália e da grécia – a desligar a televisão analógica. os primeiros a avançar foram o luxemburgo e a holanda, em 2006.

apesar da recomendação para que os países façam o switch-off este ano, o que regula as frequências de televisão é o acordo de genebra de 2006, que dá protecção às emissões analógicas até 17 de junho de 2015. daí que na bulgária, por exemplo, o concurso para a tdt deva arrancar apenas em 2014.

a grande diferença é que em quase todos os países ter tdt significa ter mais canais gratuitos. «os canais públicos têm sido uma solução recorrente na europa para estimular as pessoas a migrarem para a tdt. seria possível, por exemplo, colocar o canal parlamento na ‘televisão aberta’», afirma ao sol sérgio denicoli, professor da universidade do minho, que se questiona no seu blogue tv digital em portugal sobre «qual será o motivo que impede a disponibilização de todos os canais da rtp na tdt».

4. o que é preciso para continuar a ver tv?

todos os que não têm televisão paga nem os novos televisores com a tecnologia mpeg 4 vão ter de investir na compra de um descodificador.

para saber se precisa de um descodificador – semelhante às boxes da tv paga – ou de uma antena (prato) para receber a tdt por satélite, pode ir ao site tdt.telecom.pt ou ligar para o tel. 800 200 838.

5. em que zonas não basta ter um descodificador?

de acordo com a anacom, «100% da população tem cobertura digital: 90% por via terrestre e os restantes 10% através de satélite, devido a questões que têm a ver com a geografia ou com a dispersão demográfica».

uma vez que cerca de 70% da população já tem televisão paga, apenas cerca de 120 mil famílias vão receber a tdt por satélite. com esta mudança, todos os portugueses vão passar a poder ver os quatro canais de acesso gratuito – que até agora chegavam apenas a 90% da população.

a zon, por exemplo, aproveitou para lançar uma campanha que dá acesso aos quatro canais nacionais e a chamadas ilimitadas por 9,99 euros, com oferta do telefone e da instalação. segundo a empresa, «está a correr muito bem a venda desse pacote».

6. qual o valor mais alto que se pode pagar para ter tdt?

o preço dos descodificadores varia em função do modelo e das funcionalidades. há descodificadores a partir de 25 euros. mas há dezenas de ofertas no mercado, com os valores mais altos a rondar os cem euros.

a instalação do prato satélite, quando necessária, não pode, segundo a anacom, «ultrapassar os 61 euros». em algumas zonas, poderá ser necessário fazer alguma intervenção nas antenas.

as famílias carenciadas têm direito a um subsídio correspondente a 50% do preço, com o limite de 22 euros, na compra dos kits satélite ou dos descodificadores de tdt. primeiro terão de comprar e pagar os equipamentos e só depois se podem candidatar ao reembolso. para isso, existe um formulário em tdt.telecom.pt e nas lojas pt.

7. quais as soluções para as aldeias históricas?

em regiões como as aldeias de xisto – paisagens de onde há muito desapareceram as antenas dos telhados –, a tdt foi vista como um problema. por ficarem em zonas sombra, terão de ser servidas por sinal de satélite, o que implica colocar antenas nas casas.

mas a anacom assegura ter solução: «ficou decidido que as aldeias farão um levantamento da sua situação em termos de infra-estruturas, após o que a pt poderá equacionar soluções».

sem explicar que tecnologia poderá ser usada, a anacom afirma que «a tdt ao invés de constituir um problema pode sim vir a ser a solução para a retirada das antenas, protegendo assim o património das aldeias».

margarida.davim@sol.pt e francisca.seabra@sol.pt