A Argentina emocionou-se. Em solidariedade, a anémica oposição juntou a sua voz à da maioria. O país uniu-se. Centenas de pessoas mantiveram-se em vigília à porta do hospital. E até o enfermo HugoChávez, numa intervenção tragicómica, aproveitou para responsabilizar os Estados Unidos pelos vários casos de cancro em líderes americanos: «Seria estranho terem desenvolvido uma tecnologia para induzir cancro que ninguém conheça até agora, e só se descubra isto daqui a 50 anos?».
Entre o anúncio do carcinoma de Cristina Kirchner e a operação para removê-lo não passaram duas semanas. O choque deu-se no sábado: o porta-voz da presidência anunciou que, afinal, não havia células cancerígenas. A controvérsia estalou de seguida. Uns questionaram a competência da equipa médica, outros viram na doença uma encenação para esconder a aquisição de dois apartamentos luxuosos. Um pobre argumento, embora seja factual o enriquecimento – por explicar – da chefe de Estado.
A nova encarnação do peronismo, renomeado kirchnerismo ou cristinismo, aprovou nos últimos dias um conjunto de leis paradigmático. Limitou a posse de terras por estrangeiros a 15%, impôs medidas proteccionistas, e aprovou duas leis que são vistas como uma ameaça à liberdade de imprensa: a lei antiterrorista, que tem um alcance tão difuso que pode ser usado contra os media (o secretário de Estado dos Transportes acusou o Clarín de «terrorismo mediático» após o diário ter anunciado o aumento do preço dos transportes públicos) e a lei do papel de imprensa, que garante o controlo estatal da única fábrica que abastece os jornais.
Sinais preocupantes da presidência Kirchner, a que se junta a renovada peleja diplomática com Londres por causa das Malvinas.