Movido então por um sentimento repentino, decidi passar um fim-de-semana em Paris para fugir ao estado depressivo deste querido país.
À chegada constatei que os taxistas não entram em guerra com as empresas de autocarros que fazem preços mais simpáticos para o centro da cidade. Como o hotel ficava encostado aos famosos Champs Élysées, o primeiro banho de multidão funcionou, paradoxalmente, como uma aragem do campo. Tudo parecia puro: lojas cheias – estranhei a adoração por stands de automóveis; filas intermináveis para os cinemas; esplanadas repletas de clientes, apesar do imenso frio, nada que os aquecedores não resolvam; polícias e militares bem armados que acabam por dar um certo sentimento de segurança; Ferraris para alugar por 20 minutos ao preço de 80 euros; livrarias para todos os gostos; pessoas de vários credos, latitudes e de todas as idades.
Apesar do imenso frio, não resisti a dar um passeio higiénico, esquecendo-me que a noite se aproximava. Ao pararmos numa esplanada muito simpática, Mantignon, comecei a ter o contacto com a realidade dos preços franceses: cerveja a nove euros, copo de vinho a dez e café a três. Quanto às iguarias gastronómicas dispenso-me de dizer o preço…
Mais uma volta pelas redondezas, as 20 horas aproximavam-se e não tinha tratado de fazer a reserva para o jantar. As sugestões de diferentes amigos iam do mais recente restaurante do famoso chefe Joel Robuchon, L’atelier, que achei muito soturno e com uma clientela demasiado antiga, passando pelo La Coupole, Vaudeville, La Société, Thiou e Lassere entre outros. Uma amiga mais avisada aconselhou-nos o L’arc, já que poderíamos continuar no mesmo espaço que ‘vira’ discoteca. Paris a um sábado à noite não é propriamente Lisboa em crise. Os restaurantes estão quase todos cheios e conseguir uma mesa torna-se uma tarefa quase tão difícil como ir ao Museu do Louvre numa visita privada. Ao ver passar as horas, passei à segunda lista de sugestões e conseguimos mesa no Hôtel Costes no último turno: o das 23h00.
Ao chegar, nova surpresa. Afinal só tínhamos mesa, na melhor das hipóteses, às 23h30. O restaurante estava repleto e no bar acotovelavam-se personagens na mesma situação. Lá como cá, as mesas eram disputadas com algum empenho. Junto ao balcão, mulheres lindíssimas, vestidas com as melhores marcas, remetiam-nos para um cenário de filme, enquanto bebiam champanhe com tanta naturalidade como se estivessem a beber um copo de água. Um gin tónico e um copo de vinho ficaram quase em quarenta euros. Estando no reino da extravagância, não faltavam figuras com os seus lulus ao colo.
Quando finalmente nos sentámos na nossa mesa, percebi pelo caminho que quase todos os presentes estavam vestidos como se tratasse de um momento especial: os melhores vestidos casados com os melhores fatos. Não vi nenhum cabelo à moicano, nem calças rasgadas com t-shirts.
Apesar de ser um lugar muito turístico, não faltam franceses com aquele seu ar de snobeira a roçar a sobranceria. Confesso que até acho alguma graça a esses parolos. Outro aspecto interessante é que ninguém se pode descuidar muito tempo, pois tanto os homens como as mulheres gostam de meter conversa de circunstância com quem está sozinho momentaneamente.
Outra nota positiva era dada pelas empregadas. Quase todas belíssimas e vestidas de mini-saias ou de vestidos curtíssimos e com um sorriso bonito. A música era obviamente a da casa, o que por momentos me fez pensar que estava no Puro Vício, em Lisboa, ao princípio da noite.
Tendo uma área ao ar livre, muitos disputam essas mesas para poderem fumar. Curiosamente, nas mesas interiores que dão para essa zona também se pode fumar. Quanto aos preços, aqui os valores sobem consideravelmente. Uma cerveja passa a custar 11 euros, um whisky com água com gás, 19 e por aí fora.
A porta do L’arc às duas da manhã parece um stand da Ferrari e da Lamborghini e a enorme fila desencorajou-me. Na zona de Saint-Germain há bares simpáticos, mas já estava suficientemente cansado. No dia seguinte esperava-me a épicerie-cantine Da Rosa, onde pudemos desfrutar um magnífico Quinta do Ameal. Et voilá.
vitor.rainho@sol.pt