convidados para apresentar o livro, dois pesos pesados: nuno morais sarmento (nms) e augusto mateus. o primeiro foi o ministro do governo de durão barroso que, depois de ter ameaçado privatizar um dos canais da rtp, acabou por arrepiar caminho e salvar a empresa da bancarrota para onde as políticas de cavaco e guterres a haviam empurrado. nms teve, na altura, o bom senso, a inteligência e a coragem de perceber o que estava em jogo: reintroduziu a taxa, negociou a dívida, exigiu uma gestão rigorosa, criou uma nova empresa onde juntou a rádio e a tv públicas, mudou as instalações, acabou com a absurda alta autoridade para a comunicação social e criou a erc.
castro neves é meu amigo e foi o meu principal colaborador no efémero secretariado nacional do audiovisual e no scale, um programa europeu, não menos efémero, de ajuda ao desenvolvimento do audiovisual nos chamados ‘pequenos países’. num país onde o estudo, a investigação e o debate sobre a tv e os media é praticamente inexistente, acn faz figura de cavaleiro solitário. é um provocador e, por isso, as suas teses e reflexões são sempre estimulantes. mas, neste livro, ao mesmo tempo que defende que a rtp deve reforçar o seu papel, alargando-o às novas plataformas, alinha na ideia de que deve começar por alienar um canal generalista! acn sublinhou que a sua proposta não assentava em razões contabilísticas, mas numa premissa estapafúrdia: os dois canais privados são tão maus que só fazendo entrar um novo concorrente no mercado é possível melhorar a oferta televisiva, mesmo com o risco calculado de levar os outros à falência! para além do facto de que não há hoje limitações tecnológicas para o aparecimento de novos canais na tdt (um caso de desperdício criminoso, como venho alertando há muito – vide crónica de 02/11/11 –, e um atentado às populações mais carenciadas que são condenadas a escolher entre ficar sem tv ou aderir ao cabo), acn acaba por se embrulhar na confusão lançada por relvas, cuja estratégia, motivações e sustentação continuam por explicar.
felizmente que nms, cujo silêncio sobre a matéria começava a ser incompreensível, acabou por confessar que não percebia a coerência das medidas avulsas sucessivamente anunciadas pelo actual ministro e que não entendia «o porquê nem o para quê» da privatização de um canal. com a autoridade que adquiriu pelas responsabilidades que teve no passado e pela sua filiação partidária, esta quebra do silêncio, mesmo se passou despercebida à comunicação social, temperou o desvario do meu amigo acn, e veio trazer ao debate um contributo que o governo, a partir de agora, não pode persistir em ignorar.
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