Tendo estado em Paris há menos de oito dias, arranquei para Cabo Verde, onde esperava ‘encontrar’ uma temperatura bem mais simpática do que na capital francesa, em que o frio quase me paralisava. Na verdade, os termómetros registavam números muito mais agradáveis, mas um vento forte tornava o clima um pouco incomodativo. Indiferentes às condições climatéricas, avançámos para o roteiro que nos tinha sido aconselhado por amigos cabo-verdianos. Atendendo a que nos tínhamos de deitar cedo, começámos um pouco tarde, mas mesmo assim conseguimos ir ao 5tal da música, leia-se quintal, onde alguns nomes locais acabam por abrilhantar os jantares dos presentes. Pelo que percebi, há quem goste de conotar o espaço como sendo de turistas, enquanto outros negam tal verdade. Percebe-se que é um espaço cuidado, onde as fotos nas paredes dão conta dos artistas e clientes que por lá passaram. Como chegámos tarde, arrancámos depois para um dos espaços que achei mais engraçados dos últimos tempos: Fogo D’África, onde Nhó Nani com o seu violino consegue fazer magia e os mais distraídos até poderão pensar que o violino canta mornas. Impressionante. A decoração tem pormenores deliciosos. Numa das áreas ‘descobertas’, bocados de corda atados a um fio fazem de Andy Warhol um aprendiz de feiticeiro. As cadeiras, tipo ‘espera condições’, isto é, de plástico, não têm qualquer interesse. Ali o que conta é a magia da música e da dança, e as pessoas propriamente ditas. Novas ou mais antigas, todas convivem ao som de mornas e coladeras. Cabo Verde tem uma enorme vantagem em relação a muitos países, a informalidade. O serviço também merece louvor: empregados eficientes e simpáticos. Quando o calor humano é forte, a decoração pouco importa.
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