O violino de Cabo Verde

Falar de cabo verde e omitir a música é o mesmo que falar de roma e ignorar o Papa. Em qualquer uma das ilhas do país encostado a África a música é quase tão importante como o ar que se respira.

Tendo estado em Paris há menos de oito dias, arranquei para Cabo Verde, onde esperava ‘encontrar’ uma temperatura bem mais simpática do que na capital francesa, em que o frio quase me paralisava. Na verdade, os termómetros registavam números muito mais agradáveis, mas um vento forte tornava o clima um pouco incomodativo. Indiferentes às condições climatéricas, avançámos para o roteiro que nos tinha sido aconselhado por amigos cabo-verdianos. Atendendo a que nos tínhamos de deitar cedo, começámos um pouco tarde, mas mesmo assim conseguimos ir ao 5tal da música, leia-se quintal, onde alguns nomes locais acabam por abrilhantar os jantares dos presentes. Pelo que percebi, há quem goste de conotar o espaço como sendo de turistas, enquanto outros negam tal verdade. Percebe-se que é um espaço cuidado, onde as fotos nas paredes dão conta dos artistas e clientes que por lá passaram. Como chegámos tarde, arrancámos depois para um dos espaços que achei mais engraçados dos últimos tempos: Fogo D’África, onde Nhó Nani com o seu violino consegue fazer magia e os mais distraídos até poderão pensar que o violino canta mornas. Impressionante. A decoração tem pormenores deliciosos. Numa das áreas ‘descobertas’, bocados de corda atados a um fio fazem de Andy Warhol um aprendiz de feiticeiro. As cadeiras, tipo ‘espera condições’, isto é, de plástico, não têm qualquer interesse. Ali o que conta é a magia da música e da dança, e as pessoas propriamente ditas. Novas ou mais antigas, todas convivem ao som de mornas e coladeras. Cabo Verde tem uma enorme vantagem em relação a muitos países, a informalidade. O serviço também merece louvor: empregados eficientes e simpáticos. Quando o calor humano é forte, a decoração pouco importa.

vitor.rainho@sol.pt