O calor da noite

Luanda é uma cidade que ferve intensamente ao fim-de-semana e as filas à porta das principais discotecas são gigantescas. Aí são os seguranças que ditam leis, já que por estas bandas não há porteiras que intimidem os clientes pela sua beleza.

A selecção não obedece a critérios muito racionais, à semelhança do que acontece em noutras cidades de todo o mundo. Como o conceito de beleza aqui é bem diferente de outras latitudes, talvez o que mais conte para os seguranças/porteiros seja a vestimenta. Na capital angolana podemos dizer que são poucas as mulheres que têm medo de ser felizes. Magras, fortes ou muito fortes, quase todas gostam de vestir roupa muito justa e curta. E se optam pelas indumentárias mais extravagantes é porque fazem sucesso. Nas pistas de dança ou nos privados são muitos aqueles que gostam de quase ‘riscar o chão’, usando uma expressão local, quando levam o corpo, dobrando as pernas, até ao solo. Diga-se em abono da verdade que os homens, na maioria das vezes, não conseguem acompanhar tais coreografias. Conseguir uma bebida no balcão é uma tarefa para verdadeiros campeões, no caso de estarem com muita sede. Mas de uma ponta à outra das discotecas e bares, regra geral, a convivência é bastante pacífica, apesar de haver sempre um ou outro excesso. Os europeus, às vezes, têm alguma dificuldade em perceber a mentalidade local e abusam da sorte.

Na sexta-feira passada fui ao Chill Out e a casa estava tão cheia que teria mais clientes que alguns estádios portugueses em dia de jogo do campeonato. Mais uma vez constatei que os presentes tanto dançam uma tarrachinha, bem coladinhos, como se abanam ao som de êxitos comerciais. O mais importante é as pessoas cruzarem conhecimentos ou, melhor dizendo, divertimento. Mas seja em Moçambique, Cabo Verde ou Angola, para citar os países de língua portuguesa que tenho frequentado, não deixa de ser impressionante a diferença na atitude. Os portugueses vestem-se como se fossem fazer jogging, os locais aprumam-se como se fossem para um momento solene. Neste caso estão bem mais próximos dos franceses do que nós.

vitor.rainho@sol.pt