Como na Tunísia e na Líbia, a chamada Primavera árabe começou por ser uma revolta contra as ditaduras e prosseguiu como um enigma que se adensa a cada semana que passa quanto às liberdades e direitos civis. O choque entre forças seculares e islamistas pende para os últimos, como prova a composição das assembleias constituintes em Tunes e noCairo.
Os dias que se vivem no Egipto são mais de temor do que de esperança. Se Tantaui anunciou na semana passada o fim do estado de emergência, os mais recentes acontecimentos dão que pensar. No Parlamento, os salafistas ocuparam um terço dos lugares, torpedearam o juramento à república e exigem a interrupção dos trabalhos para orarem; nas ruas, a Irmandade Muçulmana controlou a Praça Tahrir para festejar o primeiro dia da revolta; enquanto estes gritavam «Deus é grande», os jovens que iniciaram a revolta, no outro canto da praça, reclamavam por democracia e pela saída de cena do marechal. Alguns destes jovens revolucionários fazem parte das radicais claques de futebol que, perante a estranha passividade das forças de segurança, foram protagonistas de chocantes cenas de violência (ver pág. 55). Tantaui promete sair de cena após a escolha de um Presidente nas urnas. Mas esse até poderá ser o menor dos problemas. Como dizia Mohamed Mounir, ‘a voz do Egipto’: «Acima de tudo, os egípcios precisam de apoio psicológico».