300 à hora

Quando entrámos pensei que estava noutra latitude. A música que passava transportava-me para uma qualquer cidade ocidental em que o bom house dita leis.

Os clientes agrupados à volta do balcão ou nas mesas consumiam a música com um sorriso. Quando desci à cave fiquei com uma sensação estranha. Algo me parecia familiar, embora a disposição estivesse invertida, já que, no caso em apreço, se entra por cima, se fizermos a comparação com um dos bares mais badalados da noite lisboeta dos idos anos 2000. Falo do Bar do Rio, em Lisboa, onde se entrava directamente para a ‘falsa’ pista de dança, enquanto no primeiro andar as conversas eram mais espaçosas e demoradas. Aqui é ao contrário. Entra-se pelo piso com menor movimento, tirando o corrupio de quem quer comprar mais cartões de consumo ou ir às casas de banho, enquanto no outro andar é que há mais movimento. Na cabina, o DJ de serviço contribuiu para a surpresa. Djeff impunha um house ritmado e com vozes, sem mostrar intenções de variar pelas sonoridades locais. Os clientes presentes também não davam mostras de sentir falta de alguma coisa e tudo se encaixava. Nos balcões dos bares, as vodkas mais na moda saíam a um ritmo considerável, embora nesta matéria esteja a grande lacuna daquele que é para mim o melhor bar de Luanda: a falta de águas com gás e a inexistência de sumos de limão, entre outros. Não creio que falte alguma bebida alcoólica, mas nas águas e refrigerantes deixa algo a desejar. O 300, uns metros abaixo do Hotel Trópico, em pouco tempo está a tornar-se um caso à parte na capital angolana. Como a primeira experiência foi tão positiva, acabei por voltar no fim-de-semana seguinte, embora mais cedo. E deparei-me com outros pormenores curiosos, embora insignificantes para os mais desatentos. Durante uma boa hora a cabina do DJ esteve vazia: a música debitada tinha sido previamente gravada. À medida que o tempo passava, a clientela melhorava e o DJ apareceu finalmente. Mas com ou sem DJ a casa manteve sempre um excelente house. Um lugar a não perder.

P.S. Chega a ser engraçado o encontro de fumadores no exterior do bar, transformando a zona numa área sui generis.

vitor.rainho@sol.pt