Fugir dos pessimistas

Tenho para mim que muitos estudos comportamentais, alegadamente científicos, se aproveitam das conjecturas políticas e económicas para ditarem verdades absolutas.

esta semana, reparei que foi publicado um estudo que concluiu que as reuniões profissionais fazem os nossos cérebros ficarem inertes e que têm um impacto negativo no nosso qi. como nunca sofri de ‘reunite’ aguda e sempre achei um absurdo pensar-se que das reuniões sucessivas é que se fazia luz – se assim fosse todas as empresas alcançavam os mesmos objectivos – achei alguma graça a esta nova teoria. mas, no fundo, não é difícil perceber que daqui a meia dúzia de anos as conclusões serão absolutamente opostas. na época das grandes euforias bolsistas europeias e americanas, os consultores, supostamente ‘defendidos’ pelos tais estudos científicos, faziam a apologia das reuniões, curtas, várias, mas incisivas. o resultado era um tempo interminável em salas fechadas onde, por regra, o mais artista gostava de impressionar os presentes com as suas capacidades oratórias. e eram essas figuras que se pelavam por organizar no dia seguinte mais uma ‘reuniãozinha’. confesso que às vezes olhava para eles com alguma ternura, pois comportavam-se como os jovens apaixonados que anseiam desesperadamente pelo dia seguinte para encontrarem, na escola, a sua amada. notava-se-lhes um brilhozinho nos olhos quando entravam nas salas de reunião e reparavam que metade dos presentes estavam contrariados. estive em tantas reuniões absurdas que me lembro de uma em que alguém se virou para um colega e lhe disse: «vai para o algarve e descobre os gajos da al-qaeda. tenho informações que eles andam por lá». estávamos no tal tempo em que os consultores eram chamados para criarem mais chefes do que os índios. o dinheiro abundava e falar em crescimento da facturação em 20% no ano seguinte era uma blasfémia. queria-se sempre mais e as reuniões eram óptimas para traçar essas metas.

com a crise do mundo ocidental, começam a chegar agora as novas teorias. afinal, as reuniões só embrutecem. estando numa época em que é preciso trabalhar mais e falar menos, torna-se natural que as reuniões passem a ser um problema. curiosamente, acho o contrário. há reuniões que são fundamentais, não se pode é abusar da receita. numa época em que há mais divergências, as reuniões por vezes servem para unir as pessoas. e é nestes ambientes, e aqui falo no sentido mais lato – seja no restaurante, no autocarro ou no escritório –, que se nota quem tem uma atitude positiva e quem tem uma atitude negativa. há pessoas para quem tudo está mal, enquanto para outras é preciso procurar as coisas boas e seguir em frente.

vitor.rainho@sol.pt