«é a minha mãe. quero ver a minha mãe. o que fizeram à minha mãe?». bobbi kristina, que em 2003 gritava pelo socorro do pai, estendido no chão após mais uma cena de violência doméstica, gritava agora pela sobrevivência da mãe. o desespero da filha única de whitney e bobby – que no início não tinha sequer autorização para se aproximar do cadáver –, tem sido explorado à exaustão pelos sites de celebridades, incansáveis na enumeração das possíveis causas de morte de houston.
a deriva especulativa, quase sempre liderada pelo tmz, arrisca mesmo uma prescrição detalhada de fármacos encontrados na suite do beverly hilton. «lorazepam, valium, xanax», reproduzem a reboque os tablóides britânicos daily mail e the sun, com a mesma leveza com que dão conta de dois internamentos da herdeira houston brown, «por stresse e ansiedade».
oficialmente, porém, as posições esvaziam-se de certezas. «temos de esperar entre quatro a seis semanas pelos resultados dos exames toxicológicos», preveniram as autoridades norte-americanas, esclarecendo que o processo está a ser conduzido por especialistas forenses e sem sombra de suspeitas criminais.
entre o suicídio e a overdose acidental
é quanto basta para uns defenderem a hipótese de suicídio, enquanto outros apostam na tese de overdose acidental ou ataque cardíaco, ambos seguidos de afogamento.
estaria whitney de novo mergulhada no inferno de drogas e álcool que lhe foi tolhendo o talento?
as últimas imagens, captadas a 9 de fevereiro, alimentam a discussão: apanhada à saída de um bar de hollywood, desgrenhada e molhada em suor, logo a cantora caiu nas más graças dos paparazzi. para adensar o coro de interrogações, a última aparição em palco– concretizada nessa quinta-feira ao lado da cantora e amiga kelly price – demonstrou, de novo, que a pujança que a notabilizou como a ‘a voz’ esbateu-se algures no passado. e nem com a força da sua «inspiração maior», conforme fazia questão de apresentar a filha, whitney conseguiu resgatar o brilho artístico original. foi contudo graças à sua krissy, hoje com 18 anos, que a cantora se conseguiu recuperar da pior dependência de todas: bobby brown.
«o meu marido era o meu vício.não fazia nada sem ele. drogava-me porque éramos parceiros e fazíamos tudo a dois. não me drogava por mim», confessou no programa de oprah já depois de um muito adiado divórcio, apenas consumado a partir das palavras de bobbi kristina.
«quando saí de casa, [de nova iorque para a califórnia], a minha única preocupação era proteger a minha filha, não destruir a percepção que ela tinha do pai. mas depois a internet … e ela perguntou: ‘mãe, este é o pai?».
‘ela andava feliz, como a whitney que sempre conheci’
com o rosto do pai estampado ao rótulo de marido traidor, violento e incapaz de aceitar o sucesso da mulher, a filha, então com 13 anos, acabou por incentivar a mãe a formalizar a separação.
por isso, billy watson, cunhado de whitney, é peremptório em descartar qualquer versão suicida. «só pode ter sido acidental. ela não deixaria a filha dessa forma. ela nunca faria isso com ela», sublinhou watson ao site abcnews.
os amigos concordam e não poupam créditos à reabilitação da intérprete, repetidos na resposta a tantas insinuações.
«ela andava feliz», defendeu a última parceira de palco, em declarações à edição online da revista rolling stone. «na quinta-feira a whitney estava a divertir-se. foi uma das rainhas da noite. simplesmente a whitney que sempre conheci».
para quem não conheceu, kellyprice abrevia as apresentações: «no fim do dia pouco importava o que estava a acontecer, a nossa conversa podia sempre voltar ao pilar das nossas vidas que foi o começo a cantar na igreja».
filha, prima e afilhada de cantoras – por ordem de citação, cissy houston, dionne e dee dee warwick e aretha franklin – whitney iniciou-se nos coros gospel da sua nova jersey natal com apenas nove anos. foi contudo como modelo que conseguiu as primeiras capas de revista, ao mesmo tempo que começava a soltar a voz no mundo.
primeiro na oposição ao regime do apartheid, recusando uma campanha de moda para a áfrica do sul, e finalmente nos palcos que começou a percorrer pelos bares de nova iorque.
à imagem e semelhança de michael jackson
aí, sempre sob supervisão familiar, despertou o ouvido do influente clive davis, fundador da arista records e mentor de uma carreira apoteótica.
seria pelo seu microfone, apostava-se entre burburinhos de bastidores, que no último domingo, dia 12, ‘a voz’ voltaria a elevar-se em nome próprio num dos maiores palcos da música: a cerimónia dos grammy, onde foi tributo.
«ele nunca cansou de me dizer: ‘não acredito que é o fim. nem pensar. deus não te deu um dom como esse para tudo acabar assim».
a aposta de clive em whitney, aqui recordada pela própria entre compromissos de divulgação do último álbum (i look to you, 2009), acabou por devolver o seu nome aos tops, depois de sete anos sem gravar.
o regresso ao estúdio, no ano da morte do amigo michael jackson, ajudou a apaziguar as espíritos mais fatalistas, há muito unidos na certeza do fim de uma carreira assinalada a discos de diamante, platina e ouro.
whitney aguentou firme mais um álbum, determinada em contrair as piores previsões: conseguiu vender 340 mil cópias logo na semana de lançamento de i look to you.
mas tudo não passou de um último fôlego, rapidamente asfixiado por uma turné de apupos, inesperadamente encurtada em 2010. nesse ano, a cantora cumpria a terceira e derradeira tentativa de reabilitação, sem esquecer o receio que partilhou com oprah pouco depois da morte de jackson. «pensei que não podia acabar daquela forma, que aquilo não podia acontecer aos dois».
acabou por acontecer a 11 de fevereiro de 2012, o mesmo dia em que bobby brown chorou publicamente o amor pela mulher que muitos acusam de ter destruído. ela, contudo, preferiu amargar com todas as responsabilidades: «é o meu coração. ninguém me obriga a fazer nada. sou a minha maior amiga e inimiga». e mesmo empurrada contra a parede, whitney houston escolheu calar-se.